História da cidade de Mafra

Por Fábio Reimão de Mello - 08/09/2015

História da cidade de Mafra

Uma história e um futuro

Costuma-se dizer que a data de aniversário é um momento de reflexão, ocasião onde fatos são relembrados e analisados, de forma que novas metas possam ser traçadas, assim como as ações que nos levarão a atingí-las, ou seja, aniversário é momento no qual se avalia o passado e planeja-se o futuro, para que o presente, vivido a cada dia, possa nos conduzir aos nossos objetivos.

Sei que quando trata-se do aniversário de uma cidade, por ela representar algo tão grande e diverso, talvez o fato possa parecer de pouca importância, uma coisa que parece merecer deferência mais pelo caráter cívico do que pelo afetivo, ou seja, um festejo impessoal, coletivo e frio.

Acredito porém, que o aniversário de uma cidade, da nossa cidade em especial, pode ser visto por outro ângulo, sob uma ótica que ao invés de conceber o fato como algo coletivo e impessoal, pode ser encarado pelo caráter agregador da coletividade, pois o município não representa apenas um nome e uma bandeira, mas algo maior, simboliza um o elo que une milhares de pessoas pelo fator comum que é a todas elas, transcendendo um mero escudo e território, consistindo em referência direta a toda sua população, seja do passado e quanto do presente.

Então entende-se que o município, que Mafra, é a representação de todos nós, pois esse nome e essa bandeira em verde, branco e vermelho representa todos aqueles que vivem, trabalham, estudam ou que de qualquer outra forma buscam nesta terra, tornar real aquilo que tem por sonhos e esperanças.

Portanto o aniversário de Mafra é um momento de reflexão coletiva, do que fizemos e queremos para o nosso futuro e que, como Mafra é o símbolo comum, que une a todos nós, são as nossas ações que fazem dela o que é e o que será, estando assim o futuro nas nossas mãos de cada mafrense.

A síntese de uma longa história

Foi sobre o lombo dos cavalos dos tropeiros, que conduziam gado e muares do Rio Grande do Sul às feiras de Sorocaba, que Mafra surgiu em seu elemento inicial. De pedaço de sertão habitado por índios, de caminho das tropas rasgado pela Estrada da Mata e, sob o olhar atento do Barão de Antonina, que a nossa história começou a ser escrita.

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Colonizada por imigrantes alemães vindos da cidade de Trier em 1829, este chão, anos depois foi ponto de partida de militares à Guerra dos Farrapos, época em que a “peste†disseminada pelos soldados, ceifou mais de 2.000 vidas em nossa terra, levando a uma desolação só confortada pelas orações e cruzes erguidas por obediência aos conselhos do Monge João Maria, colocadas entre a capela e o rio Negro em 1856.

A exemplo dos alemães, Mafra acolheu colonos da distante Província Bucovina no Império Austro-Húngaro, antes de tremer com o rugir dos canhões de Pica-Paus e Maragatos e, arder sob os tiroteios travados pela disputa pela passagem pela balsa sobre o rio, durante a Revolução Federalista. Sendo na seqüência, tomada pelos revolucionários gaúchos para depois ser marcada pelas degolas promovidas pelo exército republicano.

Esteve em meio a disputa entre Santa Catarina e Paraná na questão do Contestado, viu-se envolvida pela guerra, na qual sofreu a incursão de bandoleiros e colocou-se à disposição das tropas de cerco do General Setembrino de Carvalho, participando inclusive de combates, por meio do batalhão do Coronel Nicolau Bley Netto.

Mas então, a 8 de setembro de 1917, após o acordo de limites que pôs fim à questão do Contestado, que Mafra nasceu como município, passando com isso a dirigir-se e a seguir caminho próprio, agora de forma independente, porém sempre próxima da cidade irmã de Rio Negro.

Mafra foi marcada pelo cultivo da erva-mate, pela perda do território que forma hoje o município de Itaiópolis, pelo transporte de cargas e passageiros através de embarcações pelo rio Negro, pela participação de vários mafrenses na 2ª Guerra Mundial, integrantes da Força Expedicionária Brasileira, pela construção da estrada de ferro e das rodovias BR 116 e BR 280.

Sempre com uma vida política muito agitada, Mafra acompanhou e participou de muitas das principais mudanças ocorridas no cenário político brasileiro, como toda a movimentação ocasionada por ocasião de Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao Poder e que encontrou aqui voluntários que compuseram o Batalhão Patriótico do Coronel José Severiano Maia.

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Mafra compartilha com seus mais de seus 50.000 habitantes e tanto outros que aqui trabalham ou estudam, um passado fascinante, repleto dos mais variados acontecimentos e personagens, história que pertence a cada mafrense, a quem cabe escrever os próximos capítulos dessa trajetória.

Manoel da Silva Mafra

Quem é o Conselheiro que empresta seu nome ao nosso município

Manoel da Silva MafraMais do advogar em favor de Santa Catarina na questão do Contestado, Manoel da Silva Mafra, o homem que empresta seu nome a nossa cidade, teve uma trajetória profissional intensa, marcada por sua atuação jurídica e política:

Nascido em 12 de outubro de 1831 em Florianópolis-SC, Manoel era filho de Marco Antônio da Silva Mafra e Maria Rita da Conceição Mafra.

Bacharelou-se em direito pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1855, sendo Promotor Público de São José entre 1855 e1857, Juiz Municipal e dos Órfãos em Florianópolis, advogou no Rio de Janeiro, foi Juiz de Direito em Pernambuco, Paraná e em Minas Gerais;

Foi Deputado na Assembleia Legislativa Provincial de Santa Catarina por 05 legislaturas (13ª, 17ª, 19ª, 22ª e 25ª), Presidente da Província do Espírito Santo de 1878 a 1879 e Ministro da Justiça em 1882, quando passou a ser conhecido por “Conselheiro Mafraâ€;

Foi ainda Juiz do Tribunal Civil e Criminal no Rio de Janeiro, função na qual passou à aposentadoria, ocasião em que voltou à advocacia, sendo nomeado em 1894 pelo Governado Catarinense Hercílio Luz, para defender Santa Catarina na questão de limites com o Estado do Paraná.

Faleceu em 11 de março de 1907, sem assistir ao desfecho da questão Contestada, mas deixando como contribuição, além de uma brilhante atuação nos tribunais, a obra “Exposição Histórico-Jurídica por parte do Estado de Santa Catarinaâ€, base da defesa catarinense e vital para o ganho da causa a que se dedicou.

Leis curiosas

Normas que não resistiram ao tempo

CarroceirosA mudança do contexto sócio/tecnológico/cultural ocorrido naturalmente ao longo de mais de 90 anos fizeram com que normas do 1° Código de Posturas do Município, publicado em 1918 (já revogado, é claro!), assumissem, uma conotação “absurda†ou no mínimo “curiosa†aos olhos de um leitor nos dias de hoje. Vejamos alguns exemplos:

– Nos caminhos dos cargueiros, as cancelas e portões que existirem serão construídos de modo que um cavaleiro possa abrir e fechá-los sem se apear.

– É Proibido (à carroceiros e condutores): Proferir palavras obscenas em qualquer ocasião no seu trânsito pelas ruas da cidade ou povoação.

– É Proibido: Colorir doces ou massas com anilinas.

– É Proibido: Vender carnes depois das três horas da tarde no verão.

– É Proibido: Fazer sambas e batuques, quaisquer que sejam as denominações, dentro das ruas da cidade ou povoações.

Apesar de curiosas aos nossos olhos, essas normas representam um interessante recorte histórico, importante para a compreensão de nossa Mafra em seus primeiros anos, refletindo um pouco da mentalidade e organização da sociedade daquela época.

Terra de todas as gentes

Não é de hoje que o solo mafrense representa esperança de dias melhores a quem aqui fixa raízes. A busca de progresso pessoal que hoje move nossa população e representa o motor do próprio desenvolvimento do município, também alimentou os sonhos de centenas de pessoas que ao longo do tempo aqui se estabeleceram, buscando fazer daqui a base de um futuro promissor.

Basta lembrar de nossas raízes étnicas, tropeiros, alemães, bucovinos, poloneses, ucranianos e tantos outras pessoas, povos de diferentes origens e culturas que optaram, cada qual por seus motivos, em aqui se estabelecer, aceitando enfrentar os desafios de sua época, com natural receio e medo, mas com coragem em encará-los e a certeza de que somente seriam superados com muito sacrifícios. Trabalho e esforço, tanto laboral quanto de sua própria capacidade de adaptação à nova realidade, o idioma, o clima, os costumes e com isso a própria aptidão e disposição de sociabilizar-se, integrar-se às demais pessoas, em conviver pacificamente e produtivamente, sabendo que isso era fator básico do próprio progresso e por conseqüência do município que escolheram.

A herança desses povos, além de refletir-se fisicamente no semblante da nossa população e nas várias tradições cultuadas até hoje, também se reserva ao próprio espírito com que eles aceitaram e enfrentaram o desafio de viver aqui, uma forma de encarar a vida que também nos cabe ter como exemplo.

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