A dor do luto não deve ser negada e sim, superada

“Psicóloga diz que num processo natural a dor da perda se transforma em saudade”

Por Katia de Oliveira – Jornal Perfil
katia@perfilrn.com.br

Rio Negrinho – Nos últimos 2011 anos de história a humanidade conseguiu superar mitos e adversidades dos mais variados possíveis. Em todas as áreas do conhecimento foram várias as descobertas e principalmente progressos. Mas um dos maiores mistérios, para o qual ainda não há uma explicação aceita pela maioria é a morte. Por que morremos? Para onde vamos? Cientificamente, a humanidade ainda não encontrou respostas convincentes para essas perguntas.

Num cenário onde diversas crenças religiosas são também fundamentais para que o fenômeno seja encarado de forma mais amena, a afirmação de que é necessário enfrentar a dor da perda de um ente querido para superá-la parece ser o consenso entre diferentes opiniões, conforme apontou a  psicóloga Michela Manenti Machado. “Não existe uma receita para superar a dor da perda. O luto é um processo natural. A pessoa não deve negar a dor do luto e sim, vivê-la para superá-la, desde que de forma saudável . Por que com o tempo a dor se transforma em saudade, que é quando você valoriza os momentos importantes que viveu ao lado de quem ama, mas dá sequência a sua vida normalmenteâ€.

Segundo ela, é grande a incidência de pessoas que sofrem de depressão ou síndrome do pânico em função da morte de um familiar, cônjuge, filho (a), amigo ou outro. “Clinicamente a gente vê nos atendimentos que a perda de alguém pode gerar distúrbios emocionais, afinal, mexe com toda a estrutura de uma família, dependendo do papel que o (a) falecido (a) exercia naquele núcleoâ€.

A psicóloga chamou atenção para o fato de que há dois tipos de luto. O primeiro, natural, que ocorre num período de cerca de um ano. “É um período de adaptação, quando amigos e familiares passam o primeiro aniversário, a primeira Páscoa, Natal, sem aquela pessoa que partiuâ€.

Numa segunda situação, as pessoas mais próximas aquela que partiu ficam totalmente vulneráveis a sua ausência. “Nesses casos são comuns choros frequentes, quando o nome de quem se foi é lembrado ou falado, por exemplo. São situações em que é necessário acompanhamento profissionalâ€.

Culpa
Michela também relatou casos em que cuidadores – sejam familiares ou não – entram em depressão com o falecimento daquele que era cuidado. “A pessoa fica culpada, pensando que se tivesse agido de outra forma ou tomado mais cuidados a morte do outro não aconteceria naquele momentoâ€. Há, de acordo com ela, várias formas de encarar a morte de alguém segundo a cultura de cada família ou grupo social. “Tem pessoas que sentem dor, que sofrem, mas não expressam esse sofrimento. Já outras fazem questão de externar essa dor, como o caso das viúvas, que ficam as vezes, um ano vestindo somente roupas pretasâ€, falou.

É possível superar
A psicóloga contou que quando atendia em um outro município, acompanhou o caso de uma paciente que enfrentou a morte de muitas pessoas com quem tinha laços profundos de afinidade. Uma doença grave, que quase lhe tirou a vida, foi o fator primordial para que essa cliente se refizesse diante de tantos traumas. “Muitas pessoas da família dela faleceram e amigos também. Foram processos que aconteceram de forma seqüencial e a traumatizaram demais. Sofreu muito até que descobriu que tinha um câncer. Então, para continuar viva teve que superar (mais) essa dor, teve que sair do luto. Brigou pela vida, enfrentou a doença e hoje é uma pessoa completamente diferente, está muito bemâ€, relatou.

Exemplos como esse e tantos outros só vem a confirmar a frase de Allá Bozarth-Campbell, a primeira mulher a ser ordenada pastora da Igreja Episcopal. “A dor é suportável quando conseguimos acreditar que ela terá um fim e não quando fingimos que ela não existeâ€