Mafra, SC

Prezados pais, mães e responsáveis legais dos estudantes da Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina, gostaria, em nome dos professores de Mafra que estão em greve, de esclarecer e em seguida convidá-los a lutar juntos em defesa não do nosso salário ou do plano de carreira.  Estas são reivindicações justas, mas acreditamos que diante da perspectiva de implementação da nova e vergonhosa proposta deste governo para o magistério, o que está em jogo definitivamente é o futuro dos seus filhos, e consequentemente, da possibilidade de construção de uma sociedade mais justa. Está claro que não se constrói uma sociedade decente sem uma educação edificante que compreenda os diversos aspectos necessários a essa construção, tais como, o desenvolvimento de um pensamento crítico, o domínio de ferramentas básicas para a troca de ideias. A leitura, a escrita, a capacidade de reflexão independente e mais uma série de elementos possibilitadores dessa construção para o jovem estudante são essenciais para tais avanços. O que se vê da parte do governo, entretanto, não é isso, ao contrário. Minando a categoria do magistério, esses políticos que aí estão, aqueles comprometidos apenas com seus interesses próprios, têm como meta manter o cidadão desinformado, desqualificado e alienado, à parte dos seus desmandos sem que possam, pela ausência da capacidade de compreensão dos problemas que se apresentam, devido a uma escolarização deficiente, se organizar em defesa dos seus direitos.

Sabemos que as gerações passadas não tiveram as oportunidades de estudo que ora se apresentam, e, dessa forma, eventualmente, podem não compreender a dimensão do problema e do desafio que se configuram diante de nós. Alertamos que, justamente por isso, chegou a hora dessa tomada de consciência, pois o que está sendo construído para seus/suas filhos(as), netos(as), sobrinhos(as), etc. é um futuro sem oportunidades, sem perspectivas e sem liberdade, a liberdade de escolha que somente pode ser construída através de uma educação crítica e capacitante. Compreendemos, assim, que uma postura negativa por parte de alguns pais em relação ao nosso movimento que reivindica a construção dessa educação qualitativa, é de sabotagem do futuro dos próprios filhos. Estamos certos de que, esclarecidas essas distorções, os senhores e senhoras, pais, mães, prontamente se unirão a nós, para juntos exigirmos do governo, o que é justo para nossas crianças, adolescentes e jovens. Nós, professores(as) também somos pais e mães, também temos nossos filhos e filhas matriculados nas escolas públicas sucateadas, nós também gostaríamos de ver nossos filhos crescendo e recebendo as  melhores condições para que possam construir seu futuro, porém, se ficarmos parados, separados, com medo, indiferentes, ou jogando as responsabilidades de um lado a outro, jamais conseguiremos nos livrar desse projeto de dominação que os poderosos querem para nós e nossos filhos. Somente com a nossa união, somente com uma comunidade escolar forte e determinada é que poderemos garantir esse futuro às nossas crianças, com as oportunidades que não tivemos. A responsabilidade dessa luta também é sua que tem seus rebentos nas escolas públicas. A nossa força só será efetiva se ficarmos juntos e lutarmos contra esse massacre à educação. Saibam que enquanto lutamos, ou pior, enquanto não lutamos, os filhos dos abastados estão sendo preparados para ocupar os melhores lugares na sociedade, e que, querendo ou não, cientes ou não, estamos financiando a formação desses que serão os opressores dos nossos filhos uma vez que, através dos nossos impostos, arcamos com a formação dos filhos das elites nas universidades públicas. Pagamos para formar os opressores dos nossos próprios filhos enquanto nada fazemos para reformular a escola pública onde os nossos atualmente apenas se afastam das oportunidades reais. Vamos juntos mudar essa realidade, e juntos vamos redimensionar esse estado de coisas. Exijam dos seus filhos e filhas que se dediquem aos estudos e que encarem a sua formação escolar com seriedade, exijam também que os professores que se omitem abracem essa causa que é de todos nós, pois meia dúzia de professores não conseguirá mudar nada. Sejam pais atuantes e estendam o olhar para além do hoje, assim terão cumprido sua missão de juntos proporcionarmos um legado de prosperidade para todos os que virão.

Com a situação da escola pública e do magistério piorando devido às decisões criminosas do governo, a profissão de professor não se mostra mais atrativa e, dentro em breve, ninguém mais se lançará nessa jornada, e os que já estão nas escolas trabalhando com seus filhos, começarão a procurar melhores oportunidades em outras áreas. Com o tempo haverá falta de professores e assim, a juventude crescerá já condenada à escravidão velada que só uma sociedade ignorante promove. Não sejamos coniventes com esse atentado, não contribuamos para a escravidão dos nossos filhos e filhas, dos nossos netos e netas. É hora de juntos sairmos às ruas, apoiarmos uns aos outros em nome do futuro. Não pensemos apenas em uma situação isolada, pois não adianta nada resolver um único caso enquanto a maioria continuar sem oportunidades. Nisso reside a causa de tanta violência. A desigualdade, a injustiça e a ignorância são a fonte de tanta miséria e conflito. Não permitamos que nossos filhos sucumbam antes mesmo de começarem a viver. Não contribuamos com esse crime. Somente unidos e conscientes é que teremos chance de vitória. A hora é agora, depois será tarde demais. Junte-se à nossa causa.