A história de Mafra: Imigração Alemã-bucovina

Publicado por Gazeta de Riomafra - 06/07/2012 - 00h00

Por Fábio Reimão de Mello
Professor e historiador

“História, cultura e singularidade”

125 anos depois da chegada da 1ª leva de imigrantes, daquela que é a maior etnia estrangeira a colonizar nossas cidades, os Alemães-Bucovinos, mais do que simples colonizadores, são representantes de uma história e cultura singulares em todo o nosso país.

A chegada a Riomafra de imigrantes vindos da Bucovina em 1887 e 1888, é apenas parte de um longo processo de imigração, iniciado ainda no século XVIII, quando famílias deixaram a região da Floresta Bávara no então Reino da Baviera (atualmente sul da Alemanha), para habitar a vizinha Floresta da Boêmia, já em território Austro-Húngaro. Movimento ocorrido em razão do costume de que ao primogênito cabia o direito sobre a herança dos pais, o que conservava a integralidade da propriedade rural e com isso, a capacidade de retirar dela o sustento da família, mas que também relegava aos demais filhos a subordinação ao irmão mais velho ou então a busca por outras terras.

A grande extensão do império Austro-Húngaro, que concentrava povos de diferentes culturas, com maior ou menor aceitação às ordens do governo austríaco, a existência de terras a desbravar, somadas a manutenção entre os Alemães-Boêmios do costume da primogenitura, levaram o império a incentivar a fundação de colônias germânicas na distante Bucovina (“Terra das Faias”), uma província à leste do país, vizinha da  Transilvânia, hoje famosa pelas lendas de vampiros.

Dirigidos à Bucovina, entre os anos de 1841 e 1842, os Alemães-Boêmios em meio à população local, de idioma, costumes e tradições diferentes, fundaram as vilas de Bori e Buchenhain, estabelecendo suas moradias e desenvolvendo suas atividades profissionais (principalmente de cunho agrícola). Na Bucovina as famílias deixaram de praticar a tradição da primogenitura, o que, com o passar das gerações, levou a fragmentação das propriedades originais, até estágios em que várias não mais proporcionavam condições de sustento, trazendo mais uma vez àquele povo, a necessidade de imigrar.

Em uma época onde governos americanos incentivavam a vinda de imigrantes para constituírem mão-de-obra, quando Companhias de Colonização semeavam a expectativa de uma vida melhor no novo continente, os alemães-boêmios, fugindo à regra da maioria dos imigrantes vindos para o Brasil no período, escolheram local e realizam a viagem para cá de forma espontânea, sem a interferência de terceiros, atraídos à RioMafra por histórias narradas em cartas de parentes que aqui viviam.

Tão longa quanto difícil, a viagem obrigou os imigrantes a percorrer uma distância aproximada de 1800 km entre a Bucovina e o porto de Bremen (Alemanha), onde de navio seguiram para o Brasil, desembarcando no porto paranaense de Paranaguá, seguindo à Curitiba e daí, com o auxílio de carroças para o carregamento das bagagens, à pé até RioMafra.

Aqui, onde esses imigrantes passaram a ser conhecidos como Alemães-Bucovinos (pela raiz cultural germânica, pelo local de onde vinham e pela já existência de uma colônia alemã anterior), local onde essas depositaram suas esperanças de uma vida melhor, o voluntarismo de sua vinda implicou no conseqüente despreparo local para sua acolhida e instalação, o que junto das demais dificuldades de encontrar-se em um país estranho (idioma, clima, cultura) tornaram difíceis os primeiros tempos em nossas cidades, superados com o tempo e a conseqüente integração com a população local.

Os Alemães-Bucovinos são ao mesmo tempo o maior grupo étnico a colonizar Riomafra (377 pessoas) e o único do gênero em toda a América Latina, donos de uma história e cultura construída ao longo dos anos pelas regiões pelas quais esse povo habitou, o que confere grau de singularidade a essa cultura, que hoje 125 anos depois, integrada totalmente a nossa sociedade, pertence a cada cidadão mafrense, a quem cabe preservar, valorizar e usufruir.

Alberto Schafhauser

Conrado Schafhauser

Família Bucovina

Mapa austro-húngaro

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9 comentários publicados
  1. stephanes

    gostaria de saber se o sobre nome stephanes , foi de imigrantes que chegaram por ai

  2. Joao Orestes Teles

    Adorei conhecer esta historia, masa estou tentando encontrar a origem de meus antepassados, Minha AVÓ MATERNA SE CHAMAVA MARIA LUIZA HACK e MEU AVO SE CHAMAVA LIDIO HACK, será que algum teria alguma informação sobre sues pais e avos, ou seja meus bisavôs e tataravós. Agradeço desde ja se alguém puder me dar informações.

    • Daniely Sauer

      Tenho pesquisado também sobre a minha família “Sauer”. Minha avó me contava que tínhamos parentesco com os “Hack”.

  3. Fabiola Hohmann Iung

    Adoro nossa historia, meus antepassados tambem chegaram em rio negro, colonia augusta vitoria, sao Bertha kone e augusto hohmann, se tiver alguem interessado em manter contato e resgatar nossas origens pode me escrever, eu e minha tia estamos buscando informacoes para uma possivel publicacao! fabinovaes@hotmail.com

  4. ariane

    olá,minha familia chegou em mafra vindos da Alemanha de Trier (Treveres)….mas queria mais informaçoes tipo numero de embarcaçao e todas informaçoes que poderem ser dadas,o sobre nome da familia é Hack.. obrigada.

  5. Bruno Baumgartner

    queridos amigos e talvez parentes…..meu pai ja falecido em 1985 era um daquelas familias que foram saindo da Boêmia e habitando a regiao e aldeia de Buchenhain (Pojana Micului)…no fim da segunda guerra foram com outras familias deportadas para Polonia e entao fugindo dos regimes comunista para Baviera…
    eu nasci dai em 1951 e em 1974 fui fazer um serviço voluntario pelo Governo Alemao em Criciuma-SC por 3 anos estagio escola prof. da Senai…assim tb encontrei um tal de Rudolf Baumgartner …tio ou primo do meu pai com a familia em Sao Paulo Vila Mariana (ele era alfaiate)….bem eu soube que ele se mudou para Mafra um dia…. no mes de agosto agora estou indo a passear com minha familia em Curitiba…e vou de carro…para regiao de Blumenau…..e entao estou querendo passar por Mafra…quem sabe alguma dica urgente no e-mail acima gostaria achar o(a)s filho(a)s deles …seria uma grande satisfaçao se puder encontrar alguem desta familia Rudolf Baumgartner…. abraços e boa esperança de uma resposta positiva
    tb estou localizado em facebook…. obrigado … Bruno Baumgartner

  6. Aluizio Monteiro Schuster Junior

    Os alemães bucovinos, sairam primeiramete da baviera, no sul da Alemanha, e foram para a Boemia, e então para a Bucovina.
    Você saberia dizer, mais especificamente, em quais cidades eles viveram tanto no sul da alemanha quanto na boemia?

  7. Matheus Jose Seidel

    Gostei da reportagem,tenho descendencia de alemães e bucovinos.

  8. Francisco Jose Saidl - Spring Grove, EUA

    Gostei da reportagem. Tenho ufania de ser descendente de bucovinos pelo lado paterno. As terras de Rio Negro e Mafra estão regadas com muito suor e lágrimas de nossos antepassados pioneiros.

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