Através das redes sociais, as pesquisadoras rio-negrenses Cínthia Maria Cordeiro e Juliana Wilczek de Oliveira publicaram informações valiosas sobre as procissões de Corpus Christi em Rio Negro. O texto é da saudosa historiadora Maria da Glória Foohs. Leia na íntegra:
Nas anotações de Maria da Glória Foohs, resgatamos o seguinte relato sobre a Festa de Corpus Christi na nossa cidade:
Nas ruas o trajeto era enfeitado com galhos de árvores, pequenos arbustos, cordões de bandeirinhas de papel, nas janelas e portas das residências, eram preparados pequenos altares. Todas as famílias católicas possuíam imagens e quadros religiosos de santos de sua devoção. Era uma honra e deferência especial – Era uma alegria muito grande quando era sabido que a procissão passaria pela sua rua, movimentando a família para com muito amor e devoção preparar o altar. Todos acreditavam que receberiam graças e bênçãos especiais.
Os altares eram montados e preparados ao longo do percurso da procissão para que neles fossem depositado o Santíssimo Sacramento. A procissão parava, o sacerdote depositava o Ostensório e eram recitadas as orações, entoado o cântico “Tantum ergo”, dada a benção do Santíssimo Sacramento, rezada a oração final e a procissão prosseguia até o próximo altar.
Ao passar a procissão com o Santíssimo, membros da família postados ao lado do altar, com muita contrição pediam favores, saúde, felicidade, harmonia no lar. Ficavam certos de serem atendidos e Deus nunca os decepcionou.
Os tapetes de serragem, pétalas e flores, no principio, era apenas em frente aos altares externos, passando depois a todo o percurso da procissão, sendo aprimorados a cada ano. Confeccionados com areia, serragem colorida, borra de café, pétalas de flores, camélias, “champinha” de garrafa recobertas com papel “ouro” – papel de cigarro, papel de bombom de chocolate.
Meses antes, as crianças juntavam todo o papel ouro e toda a “champinha” que tivessem oportunidade de juntar, e os Cruzadinhos tinham a incumbência de catar mesmo das ruas as “champinhas” de garrafa e papéis de cigarro jogados nas valetas das ruas. A coleta era entregue para as Irmãs do Colégio São José e o prêmio era ganhar um “Santinho”. E como a gente saia feliz e realizada com o santinho na mão. Com esse material os tapetes eram adornados.
Os tapetes cada vez mais aperfeiçoados apresentavam verdadeiras obras de arte, montados desde a madrugada fria, pelas equipes dos Marianos, Filhas de Maria, Cruzadinhos, Irmãs da Divina Providência – Colégio São José e Hospital Bom Jesus, as Irmãs de Schoenstatt – Irmãs da Maternidade e as Irmãs Franciscanas.
Desde 1923/24 data do inicio do Seminário Seráfico São Luís de Tolosa, Frades e alunos desciam o morro para prestigiar e acompanhar a procissão de Corpo de Deus da Matriz, embelezando com a banda de música e dando um toque místico ao entoar os hinos sacros com as vozes cristalinas dos jovens.
A duração da procissão era até de 3 horas. O participante cansava sim, o ajoelhar na rua, sem calçamento, sem asfalto era penoso até para as crianças, mas era feita com sentimento de fé, certeza que estava agradando a Deus, que era um sacrifício possível de fazer, até pequeno, pelas tantas graças recebidas. Como era bonito este sentimento. Sentia-se próximo a Deus.
As congregações acompanhavam a procissão em fila de duas pessoas, ladeando as ruas, Cruzadinhos, Filhas de Maria, Marianos, Apostolado da Oração, Ordem Terceira, Pia União de Santo Antônio, Três membros da Diretoria de cada Associação caminhavam no centro, portando o Estandarte daquele grupo e recitavam o terço e iniciavam os cânticos.
Não havia microfones e serviços eletrônicos. A participação era dos devotos e esta não falhava.
Cínthia Maria Cordeiro e Juliana Wilczek de Oliveira, pesquisadoras

Fotos: Arquivo Público Maria da Glória Foohs