A difícil arte da convivência

Por Fábio Reimão de Mello - 13/12/2013

Fruto da diversidade étnica que marca a formação de nossa população, a riqueza cultural é uma característica riomafrense, Índios, caboclos, alemães, bucovinos, poloneses, ucranianos, tropeiros e tantos outros povos, que já habitavam ou adotaram esta terra como seu lar, convivendo juntos, aqui, superaram suas diferenças e as transformaram em união, em um processo de integração não muito tranqüilo.

Acreditar que nossos antepassados viveram em total harmonia uns com os outros, desde o princípio de nossa história é algo bonito, mas pouco real. Se ainda hoje, em algumas oportunidades, vemos a existência de algumas rusgas étnicas, imagine isso a mais de cem anos atrás, quando pelas ruas de Riomafra ouvia-se não somente sotaques diversos como também diferentes idiomas, pertencentes aos povos que colonizaram esta região, cada qual com seus próprios costumes, suas tradições e maneiras de pensar, tendo que, por força de situação, conviver juntos, dependendo, de certa forma, uns dos outros, em um verdadeiro choque cultural. Então nada mais natural que essa convivência fosse “um tanto difícil” no princípio, com a ocorrência de atritos, como leves demonstrações de preconceito, dificuldade de entendimento ou mesmo fatos de extrema violência.

Para começar, os primeiros contatos entre tropeiros e nativos já não foram muito amistosos, marcados pelo ataque de índios à tropas de gado que por aqui passavam e, conseqüente revide de seus condutores, o que trás à lembrança o fato de que, juntamente com o pessoal responsável pela construção da estrada de mata, havia um destacamento militar, com a função tanto de manter a ordem quanto proteger os trabalhadores de possíveis agressões indígenas.

Além disso, não são raros os relatos de confronto entre imigrantes poloneses e ucranianos, instalados na colônia Lucena (atual Itaiópolis, na época território riomafrense) e seus arredores, de ataque às precárias moradias dos imigrantes construídas logo após sua chegada, defendidas à bala e à fio de facão, ao mesmo tempo que outras narrativas contam também a morte de índios por aquelas matas. Também houve casos de raptos de crianças, como o ocorrido com o filho de Nicolau Scheid, levado por índios botucudos e não mais encontrado, situação que pode ter ocasionado a presença de mestiços entre os indígenas, o que foi constatado anos mais tarde.

A posse e aquisição de terras por imigrantes alemães foi outra causa geradora de crise no passado, quando brasileiros aqui residentes, contestavam abertamente o direito de estrangeiros de se tornarem possuidores de terras nacionais, fato comum na região de São Lourenço e, que ocasionou não somente questionamentos legais ou denúncias junto ao juiz local, como diversas intimidações e até ameaças violentas.

Entre os próprios imigrantes haviam questões relacionadas à seus próprios costumes étnicos que dificultavam o convívio com os demais, como proibições de famílias ao relacionamento (namoro, casamento) entre alemães bucovinos e poloneses, ou então, desavenças geradas por entendimentos quanto a pureza da raça entre imigrantes germânicos, como o ocorrido entre alemães e alemães bucovinos.

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Da mesma forma como a harmonia, os atritos entre nossos diversos elementos étnicos não podem ser concebidos como algo generalizado, mas sim como fato ocorrido e revestido, em certos termos, de naturalidade, devido o contexto da época, causador sob uma rápida análise, de um grande choque cultural causado a todos os envolvidos, fato que com o tempo e boa vontade, foi sendo superado, promovendo assim a integração desses povos e proporcionado a formação nossa população atual.

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