A fé no Monge João Maria – E a Canonização popular

Por Fábio Reimão de Mello - 14/03/2013

“Fé” é a capacidade das pessoas em acreditar em algo, termo que geralmente se emprega ao nos referirmos a crenças no sentido religioso, sejam elas ligadas a entidades divinas, igrejas, fatos ou mesmo pessoas.

Costume, tradição ou fenômeno, o fato é de que a fé religiosa (seja ela qual for) faz parte da essência do ser humano, pelo menos da maioria, não só estando presente desde os primórdios de sua existência, quanto, perpetuando-se pelo tempo nas mais diversas formas.

Mantendo-se por períodos históricos favoráveis a sua propagação e culto, assim como também em épocas totalmente desfavoráveis, de proibição e perseguição (como o princípio do cristianismo ou o judaísmo durante o regime nazista), as ações de censura não revelam-se com força suficiente para extinguir uma crença.

Seja a censura exercida com o cunho político, religioso ou policial, que é claro, podem restringir manifestações públicas; seja de forma escancarada ou velada; a verdade é que a “fé” mantém-se em períodos turbulentos em caráter reservado, discreto e familiar, longe do alcance direto dos meios de coerção.

Às vezes, a fé religiosa leva a sincretismos (fusão de crenças), a adoção de práticas não recomendadas pela própria religião a qual se segue, como é, por vezes, o caso dos simpatias e benzimentos e, também a concepção popular de fatos ou pessoas como “sagrados”, mesmo  não sendo assim reconhecidos pelas religiões oficiais, como é o caso do culto como “Santo” ao Padre Cícero no Nordeste do Brasil.

Caso curioso desse tema, também pode ser visto aqui em Riomafra,  cercando a personalidade do “Monge João Maria”. Um homem (ou três fundidos em uma única pessoa numa grande confusão popular), que no século 19, em andanças por esta região, pregou a palavra de Deus a seu modo, numa espécie de catolicismo rústico, à população local, pessoas simples, humildes e desassistidas, às quais pregava, benzia, aconselhava e para muitos, também curava, como o milagre do fim da epidemia de varíola em Riomafra, creditado as cruzes que mandara erguer por volta de 1850.

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Mas para quem pareça que a crença no Monge é apenas passado, como na época em que a cruz da praça Hercílio Luz foi para o cemitério e voltou “misteriosamente”, vale um olhar mais atento a sua volta, pois não são nem um pouco raras as pessoas que se detém diante da mesma cruz, oram, acendem velas e colocam flores, muitas vezes em agradecimento pelo atendimento de promessas.

Pelo interior de nossos municípios é comum encontrar nas paredes das casas, entre quadros de santos, local a ele reservado não por acaso, o conhecido retrato do Monge, sentado segurando os joelhos, assim como a presença dessa mesma fotografia dentro de pequenas capelas erguidas ao longo das estradas, em homenagem a este ou aquele santo.

Ainda, há cruzes supostamente mandadas erguer pelo monge durante alguma de suas passagens por aqui, ou mesmo lugares onde essas cruzes já existiram (tombadas devido a ação do tempo), em que até hoje, crianças são batizadas de forma caseira, seguindo costume que teria sido sugerido pelo Monge, mas que é procedimento desaconselhado pela igreja.

Tal é a fé no Monge, que por toda essa região ele é tido popularmente como Santo, o que é valido lembrar: sem a existência de qualquer processo de beatificação ou canonização junto à igreja Católica. Mas, apesar de não sê-lo oficialmente, não é somente na mente das pessoas que o Monge é santo, pois temos materializado essa “fé” na forma de uma rua em Mafra,  na área central aliás, que é denominada rua “São João Maria”.

Dessa forma, vemos não só a capacidade que uma crença possui em se perpetuar, mesmo após episódios de censura e violência, como a Guerra do Contestado, ou então a falta de uma ligação direta com uma religião oficial, mas que a base da aceitação dessa mesma fé, não está em templos ou propagandas, mas na simples capacidade humana de acreditar.

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