A história de Mafra: A guerra do Contestado – “A ameaça cabocla”

Por Fábio Reimão de Mello - 22/11/2012

Quem acredita que a Guerra do Contestado (1912-1916) foi um episódio acompanhado pela população riomafrense apenas através da segurança e do conforto das páginas dos jornais da época, achará no mínimo estranhos os fatos acima transcritos do Livro de Crônicas do Colégio São José, que descrevem uma população amedrontada pelo receio de invasão do município por bandos armados. Mas esse, foi o contexto que não somente antecedeu a incursão de bandoleiros, como também o estabelecimento de toda uma estrutura militar a ser empregada no conflito e, até o próprio envolvimento direto de riomafrenses em combates, sob o comando do Coronel Nicolau Bley Netto.

Por volta de 1914, a existência de redutos caboclos na região, as derrotas ou mesmo a ação ineficaz dos militares contra as forças caboclas na Campanha do Contestado e ainda a expansão da área do conflito, levou a presença de grupos bandoleiros na região, sendo Canoinhas constantemente atacada e Itaiópolis invadida no final de agosto. Tais fatos fizeram com que naquele dia a guerra se encontrasse às portas de Riomafra, que sem proteção, encontrava-se indefesa diante de uma eminente invasão.

Esse contexto de insegurança provocou uma mudança na rotina da cidade, aulas foram suspensas e, assim como o instituto Neo-Pitagórico (aqui instalado meses antes) que regressou a Curitiba com todos seus professores e alunos, mulheres, crianças e até famílias completas retiraram-se para a Lapa em busca de proteção, deixando a cidade com ares de abandonada. Foi nesse clima, que notícias sobre a aproximação de um bando de fanáticos fez com que, a fim de impedir o possível acesso dos jagunços à margem direita do rio Negro, a passagem pela ponte metálica fosse fechada com arame farpado, o que por conseqüência também impediu que famílias do lado mefrense pudessem seguir em direção a Lapa.

Estação de Rio Negro Alemãozinho Caboclos da região
O temor da população tornou-se realidade em 29 de agosto, quando Henrique Wolland, conhecido como “Alemãozinho”, com um grupo de 300 homens chegou pela estrada do São Lourenço, estacionou sua tropa na localidade de Portão e, após verificar a inexistência de tropas militares na cidade, rumou para o centro junto de um piquete com cerca de 17 caboclos.

A fuga de habitantes, a ausência de forças militares e o próprio receio da população em reagir contra um inimigo o qual não conseguiam dimensionar, fez com que a incursão se desse sem qualquer ameaça ao bando, que após saquear a estação ferroviária, roubou um revólver e munição de uma loja na rua Felipe Schmidt, perto da Sociedade Zepellin, e passou a percorrer calmamente as ruas da cidade.

É nesse ponto que a figura do mafrense José Pauli surge. Esse agricultor que vindo da Vila Nova tentara sem sucesso reunir alguns homens para enfrentar os invasores, aproximou-se à cavalo de Alemãozinho, usando uma fita no chapéu como os fanáticos costumavam utilizar, sacando sua arma disparando duas vezes contra o líder do bando.

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A atitude, que por muitos pode ser classificada como imprudência, loucura ou mesmo heróica, pelo fato de colocar-se em risco em prol do benefício de uma coletividade, rendeu a Pauli um lugar tanto na história mafrense e do próprio conflito, porém não da forma pela qual se ambicionou. O primeiro tiro perdeu-se e o segundo falhou, não resultando mais do que apenas chamuscar a camisa de Wolland que, reagindo alvejou Pauli pelas costas quando ele tentou fugir e, entre gritos de raiva e valentia, passou a conduzir seu bando pela rua, deixando o mafrense caído ao chão.

Na manhã do dia seguinte, um contingente de soldados da Polícia do Paraná chegou a Riomafra e constatando que os revoltosos haviam seguido em direção a Itaiópolis, passou a fazer treinamentos com armamentos em campos próximos da cidade de Mafra, dando assim oportunidade para que o bando se distanciasse e deixando a perseguição à cargo dos vaqueanos civis, comandados pelo Coronel Nicolau Bley Netto.

O assassinato de José Pauli foi o único crime pelo qual Henrique Wolland foi acusado após sua rendição às forças militares no início de 1915, porém, por prestar valiosas informações sobre a localização de redutos e táticas utilizadas pelos jagunços, acabou sendo absolvido por considerar-se o ato como de legítima defesa.

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