As revelações de nossas escolhas

Por Fábio Reimão de Mello - 15/04/2013

Sabemos que nossas escolhas, as decisões que tomamos no dia-a-dia diante das mais diferentes situações, tem reflexo direto em nosso futuro, seja ele a curto, médio ou longo prazo, quando as conseqüências dessas escolhas se efetivam.

É claro que decisões são tomadas na intenção de que seus frutos sejam positivos, mas como toda situação que exige uma decisão, por mais acertada que possa parecer, não há garantia de que a opção adotada realmente terá o resultado esperado, existe a possibilidade de insucesso, que as vezes é até maior que as chances de sucesso.

São essas opções, que podem ser escolhidas segundo uma linha mais racional, mais sensata, com maiores possibilidades de sucesso, ou então mais arriscadas, que estejam de acordo com nossas intenções e objetivos, que vão demonstrar aspectos de nossa própria personalidade, como a forma com que encaramos a vida e os desafios por ela impostos. Assim, é através das nossas opções que mostramos quem realmente somos, não especificamente pelo resultado que delas advém, mas principalmente pelas razões que nos motivaram a tomar tal decisão.

Em abril de 1945, em plena 2ª Guerra Mundial, uma decisão tomada após a vitória em um jogo de cara ou coroa, selou o destino do Tenente Ary Rauen, pondo fim a uma jovem vida de apenas 22 anos e, comprovando mais uma vez, as características pessoais que o fizeram entrar para a história, em destacadas atuações nos combates de Castelnuovo e Monte Castelo, quando chegou a ser citado como “o mais bravo soldado de sua Unidade”.

No início de abril de 1945, a Força Expedicionária Brasileira – FEB preparava-se para atacar a cidade de Montese, que encontrava-se ocupada por tropas alemãs e protegida por um forte esquema de defesa, distribuído não só dentro da cidade como em seu entorno, o que demonstrava que o iminente combate seria talvez o mais duro travado pelo Brasil naquele conflito.

O conhecimento dos sérios riscos em termos de pessoal que a operação oferecia e que o lado para avanço de seus pelotões em direção à Montese representava riscos em graus diferentes (o avanço do lado esquerdo demonstrava, nos estudos iniciais, ser de mais difícil progressão e portanto mais lento, enquanto a direita parecia ser mais favorável ao ataque, rapidez que proporcionaria a entrada em combate dentro da cidade, antes de qualquer outra tropa aliada, iniciando o perigoso combate urbano), o Comandante da 2ª Companhia do 1º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria, permitiu aos seus dois tenentes, Ary Rauen e Iporan Nunes de Oliveira, escolher por qual flanco cada um  atacaria Montese.

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Ary venceu o cara ou coroa e fez sua escolha. Escolheu o lado mais adequado a tudo aquilo que demonstrara naquela guerra, dono de atos de coragem reconhecidos desde então, optou por atacar à direita e comandar o primeiro pelotão brasileiro a invadir Montese. Mas, como sempre há a chance de não alcançarmos o resultado esperado, das decisões de Ary Rauen, aquela teria sido talvez a última, atingido na cabeça por um tiro, não alcançou Montese, morrendo em combate naquele 14 de abril de 1945.

Assim, as opções que tomamos em situações difíceis revelam quem realmente somos, pois, foi o desejo de ser o primeiro a invadir Montese, ciente dos riscos do combate urbano que travaria inicialmente somente com seu pelotão, uma manifestação da sua personalidade arrojada e corajosa, pois se sua opção tivesse sido o outro lado talvez não estaria sendo ele mesmo, pois Ary Rauen somente foi o Ary Rauen que conhecemos hoje, devido as escolhas que fez.

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