Depois de nascer, o ser humano berra e desperta mais do que a sua existência, desperta o seu relógio ou tempo pessoal, muito diferente do tempo que corre na sociedade em que vive. A pessoa conforme cresce, vai aprendendo sobre as regras, sobre os prazos para a conquista de determinados objetivos e conforme se cobra pela realização de metas e conquista de objetivos, vai se tornando cada vez mais ansiosa e perdida em sua própria vida.
É muito comum se deparar com conteúdos na internet sobre o que fazer aos vinte anos para ter sucesso aos trinta anos. Você provavelmente já deve ter visto o filme De Repente 30, estrelado pela atriz Jennifer Garner que vive a personagem Jenna Rink, que na sua festa de aniversário de treze anos, faz um pedido inusitado diante de um pó mágico: “quero ter trinta anos, a idade do sucesso”.
Jenna realiza o seu desejo, mas ter trinta anos não era bem o que ela tinha visto nas revistas adolescentes. Embora tivesse uma posição de destaque no trabalho, ainda não era o que ela tinha sonhado. Ela não tinha um relacionamento que a satisfazia, tinha perdido o contato com a família, com o melhor amigo, consigo mesma e… a ideia de sucesso que ela havia construído de quando completasse trinta anos não se relacionava com a sua realidade. Resultado disso: frustração.
E não tem como falar sobre ser bem-sucedido sem mencionar Ferris Bueller, do filme Curtindo A Vida Adoidado, que decide matar aula para se divertir intensamente com o amigo e namorada. Ao contrário de Ferris, Cameron, seu melhor amigo, sente medo do que pode acontecer e no final, uma das frases finais de Ferris faz qualquer um refletir:
“A vida passa rápido demais, e se você não parar de vez em quando para vivê-la, acaba perdendo seu tempo.”
Ele não sabia exatamente o que fazer de sua vida, mas seja lá o que fosse, gostaria de ainda poder aproveitá-la.
Para a jornalista e idealizadora do portal de desenvolvimento humano, Mulher Quebrada, Daiana Barasa, ser bem-sucedido deveria partir de uma concepção particular e não de uma premissa ditada pela sociedade. Mas como fugir disso, se a todo momento é esfregada diante dos olhos uma realidade de cobrança, de “corrida contra o tempo”, de pessoas bem-sucedidas no Brasil e no mundo, segundo a sociedade e segundo às suas bolhas?
Nas redes sociais as pessoas são felizes, bem-sucedidas, por trás das telas são pessoas “comuns” na busca por uma realização real, que não demande postagens nas redes sociais para ser validada enquanto realização.
SER BEM-SUCEDIDO – ALÉM DAS CONQUISTAS MATERIAIS E PADRÕES SOCIAIS
Nas diversas áreas da vida, ser bem sucedido pode partir de concepções diferentes. No quesito vida profissional, por exemplo, para algumas pessoas o trabalho não basta, mas sentir-se vibrando positivamente com aquilo que faz, porque sem propósito, o trabalho perde a razão.
Outras pessoas associam ser bem-sucedido com ganhos materiais, como ter propriedades, carros, casa, etc.
Já outras acreditam que ser bem-sucedido é poder viajar o mundo, conhecer lugares, culturas, pessoas, etc.
Na área dos relacionamentos afetivos, para algumas pessoas o casamento e filhos é sinônimo de realização, já para outras o sinônimo de realização é um relacionamento de parceria com alguém, independentemente do casamento reconhecido em cartório ou igreja e de ter filhos. Para outras, o relacionamento aberto é o modelo que mais se adequa com o que acreditam.
Serão muitos os exemplos do que pode representar ser bem-sucedido para diferentes pessoas em diferentes contextos.
A maioria das sociedades tem como exemplo de sucesso pessoas que são bem-sucedidas em todas as áreas da vida, e esse sucesso é mostrado por meio de exemplos excepcionais como donos de grandes impérios, com propriedades luxuosas pelo mundo, casamento “heterossexual”, com aparência perfeita, aliás, quando se fala em aparência, não se pode deixar de mencionar a busca também por uma estética perfeita.
Durante muito tempo era comum ouvir que sinônimo de sucesso era ter filhos, plantar uma árvore e escrever um livro. Segundo o autor americano, Earl Nightingale, “Sucesso é a realização progressiva de um objetivo de valor” e esse objetivo de valor é absolutamente particular. Pode ser que alguns objetivos pessoais sejam traçados com base em objetivos “gerais” sociais, e claro, aí entra a questão da importância do autoquestionamento e autoconhecimento.
O que você quer para a sua vida, seus objetivos pessoais, estão de acordo com o que deseja para a sua vida ou com o que a sociedade espera de alguém bem-sucedido?
Ser bem-sucedido ou “se dar bem” na vida pode variar muito de pessoa para pessoa e o ideal é se questionar sobre o que é ter sucesso, segundo a sua própria visão, sem considerar o que está determinado nos padrões sociais.
Se a sua vida estivesse dentro de todos os padrões sociais que validam o que é ser bem-sucedido, será que você realmente se consideraria como alguém de sucesso?
Uma conquista material vale mais do que aquela que se obtém interiormente entre você e você mesmo, sem a necessidade de qualquer validação externa?
E não se pode falar em conceito de sucesso segundo padrões sociais, sem mencionar o quanto esses padrões podem ser cruéis com as mulheres. Desde pequena a mulher é estimulada a um padrão social, cuidando de uma boneca como se fosse um filho e participando de brincadeiras que estimulam um comportamento socialmente aceitável como casamento entre homem e mulher e cuidados com a casa. Mas ser bem-sucedida está justamente na escolha da vida que se deseja, além dos padrões sociais.
No fim das contas, ser bem-sucedido está mais relacionado a ser quem é, com todas as complexidades que isso demanda, quando não se é aquilo que a sociedade está esperando, mas ainda assim, a sensação interna é de paz e realização pessoal. O que é ser bem-sucedido para você?