Disfunção cognitiva também é indício importante na esclerose múltipla

Por Assessoria - 21/06/2019

Segundo dados da National Multiple Sclerosis Society – entidade americana dedicada a estudar e difundir pesquisas sobre a esclerose múltipla – mais da metade de todas as pessoas com a doença poderão desenvolver problemas com a cognição. Aliás, esse pode ter sido, inclusive, o primeiro sintoma de esclerose nos pacientes. Apesar de não ter cura, o diagnóstico precoce é o maior aliado do paciente, já que com o tratamento, a evolução da doença pode ser controlada, garantindo uma vida social mais ativa.

Cognição refere-se a uma gama de funções cerebrais de alto nível, incluindo, mas não limitado a capacidade de aprender e lembrar informações, organizar, planejar e resolver problemas, concentrar, manter e desviar a atenção, entender e usar a linguagem, perceber com precisão o ambiente e realizar cálculos.

A neurocientista e neuropsicóloga Carina Spedo trabalha justamente na identificação precoce da disfunção cognitiva e neuropsiquiátrica dos pacientes e no diagnóstico precoce/progressão da esclerose múltipla, bem como dos aspectos relacionados a empregabilidade e reabilitação neuropsicológica da doença. “Combinando a clínica, exames de imagem tradicionais e exames neuropsicológicos, é possível avançarmos no diagnóstico precoce, garantindo melhor qualidade de vida para os pacientes – dado que hoje temos à disposição tratamentos transformadores do curso natural da doença”, afirma a Dra. Carina.
Nas doenças desmielinizantes, como é o caso da esclerose múltipla, as lesões cerebrais características podem ser sutis no primeiro momento, e o paciente pode não apresentar qualquer comprometimento físico e motor, porém, é possível que já haja algum prejuízo cognitivo. Alguns sinais podem ser alterações de humor, diminuição da velocidade de processamento de informações, falta de atenção/memória, e habilidade reduzida de recordar sequências numéricas e organizar materiais. Esses sinais são geralmente imperceptíveis por grande parte dos pacientes e familiares, principalmente no início da doença.

Como exemplo, a neuropsicóloga citou um estudo brasileiro, em que numa amostra de 35 pacientes com menos de três anos de doença e quase sem incapacidade, foi o teste cognitivo que mostrou ser uma característica mais significativa da presença de esclerose múltipla. Os problemas cognitivos não são diretamente relacionados a outras características da doença – o que significa que alguns indivíduos podem apresentar limitações físicas/ motoras, mas sem qualquer comprometimento cognitivo, e vice e versa.

De acordo com a Dra. Carina, apesar do comprometimento cognitivo na esclerose múltipla possuir taxas de prevalência de 43% a 70% e ser importante aliado no diagnóstico precoce e qualidade de vida para o paciente, mais estudos se fazem necessários. “Avançamos a um ponto em que não precisamos de uma bateria extensa de exames neuropsicológicos. Protocolos de triagem enxutos, simples e direcionados colaboram atualmente para o auxílio diagnóstico da esclerose múltipla. Devemos avançar com essa abordagem, pois quem ganha é sempre o paciente”, conclui a neuropsicóloga.

O reconhecimento, a avaliação e o tratamento precoces são importantes porque as alterações cognitivas – juntamente com a fadiga – podem afetar significativamente a qualidade de vida, os relacionamentos, as atividades e o emprego de uma pessoa. Os primeiros sinais de disfunção cognitiva podem ser sutis – quando notados, primeiro pode ser pela pessoa com esclerose múltipla ou por um membro da família ou colega. Geralmente, a fadiga, as dificuldades cognitivas e emocionais podem acometer o emprego, o desempenho de certas atividades sociais e diárias. Esses podem ser os primeiros indícios de que é necessário buscar também por tratamento não medicamentoso e conversar com o empregador sobre a possibilidade de obter ajustes no emprego.

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Saiba mais sobre a esclerose múltipla: a esclerose múltipla é uma doença autoimune, na qual os anticorpos atacam o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal). A doença é caracterizada por um processo de inflamação crônica que pode causar desde problemas momentâneos de visão, falta de equilíbrio até sintomas mais graves, como cegueira e paralisia completa dos membros. A doença está relacionada à destruição da mielina – membrana que envolve as fibras nervosas responsáveis pela condução dos impulsos elétricos do cérebro, medula espinhal e nervos ópticos. A perda da mielina pode dificultar e até mesmo interromper a transmissão de impulsos nervosos. A inflamação pode atingir diferentes partes do sistema nervoso, provocando sintomas distintos, que podem ser leves ou severos, sem hora certa para aparecer.

A doença geralmente surge sob a forma de surtos recorrentes, sintomas neurológicos que duram ao menos um dia. A maioria dos pacientes diagnosticados são jovens, entre 20 e 40 anos, o que resulta em um impacto pessoal, social e econômico considerável por ser uma fase extremamente ativa do ser humano. A progressão, a gravidade e a especificidade dos sintomas são imprevisíveis e variam de uma pessoa para outra. Algumas são minimamente afetadas, enquanto outras sofrem rápida progressão até a incapacidade total. É uma doença degenerativa, que progride quando não tratada. É senso comum entre a classe médica que para controlar os sintomas e reduzir a progressão da doença, o diagnóstico e o tratamento precoce são essenciais.

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