Conheça a história do Hospital Bom Jesus, inaugurado no dia 6 de agosto de 1924

Por Redação Click Riomafra - 06/08/2020

O dia 06 de agosto é especial para a cidade de Rio Negro-PR. Além da celebração em Louvor ao Senhor Bom Jesus da Coluna, que é a mais tradicional da cidade e neste ano de 2020 chega a sua 128ª edição, neste dia também é comemorado o 96º aniversário do Hospital Bom Jesus, inaugurado no ano de 1924. Conheça a história:

SERVIÇOS MÉDICOS EM RIO NEGRO

A história do serviço médico em Rio Negro iniciou em 1897 com o trabalho do Dr. Reinaldo Machado, formado no Rio de Janeiro em 1896. Ele teve uma curta permanência na cidade, pois no mesmo ano, exercendo atividade também na Lapa-PR, transferiu-se para Curitiba.

Depois estabeleceu-se por estas paragens um doutor, Mathias Piechnik, nascido em Druszkow Pusty na Polônia. Obteve o diploma de medicina na Cracóvia em 07 de dezembro de 1896 e decidiu-se, um tempo depois, trabalhar no longínquo Brasil.

Fixou-se em Rio Negro e aqui enfrentou inúmeras dificuldades, a começar pelo transporte precário: um cavalo ou uma carroça. Foi por muito tempo o único médico da região, onde atendia doentes da Lapa, São Mateus, Canoinhas, e outras cidades. Atendeu os doentes durante a construção da estrada de ferro, num hospital improvisado no ramal de São Francisco.

Atendia também pela madrugada, fazendo pequenas intervenções cirúrgicas e demais atendimentos numa época em que não havia vacinas obrigatórias, hospitais e postos de saúde.

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Com o passar do tempo alguns outros abnegados médicos vieram trabalhar na região, enfrentando toda sorte de dificuldades e contratempos. Sempre atendendo quem lhes chamava, sem distinção.

Em condições assistenciais médicas precárias, em 1916 radicou-se em Rio Negro o médico Dr. Eduardo Virmond de Lima, que permaneceu clinicando até 1917.

COMO ERA O ATENDIMENTO

Médico era um profissional escasso, de difícil disponibilidade, especialmente em regiões com poucos recursos econômicos, isso porque foi apenas em 1919 que a Universidade Federal do Paraná formou a primeira turma de medicina com 15 novos médicos.

A comunicação terrestre entre Curitiba e as cidades próximas, naqueles tempos, era realizada quase exclusivamente em estradas com péssimo estado ou por via férrea, que havia sido criada recentemente. Como transporte, a opção era o cavalo e as carroças.

Doenças como o tifo, varíola, sarampo, diarreias, pneumonias, apendicites, amigdalites e outras mais, afetavam a população, que se achava desprotegidas de recursos. Não existia unidade pública de saúde, os partos eram domiciliares, acamamento só em casa.

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Em 1918, a gripe espanhola, epidemia que vitimou milhões em todo o mundo, fez poucas vítimas na região, embora na localidade do alto Rio Preto, um surto matou em um mês aproximadamente cem pessoas.

Para doenças graves e epidemias não se dispunha de qualquer terapêutica específica, afora antitérmicos e alguns analgésicos. Não havia quimioterápicos e nem antibióticos evidentemente, e a pobreza e desnutrição eram grandes no interior do País e nesta região, o que criava um campo favorecedor.

As enfermidades preocupavam as autoridades estaduais médicas, sanitárias, políticas, como a toda população, que tinha conhecimento dos problemas praticamente através de raros jornais, reuniões sociais, religiosas e viajantes. A epidemia motivou a organização em Mafra de um improvisado hospital, na sede do Clube Democrata, localizado na Praça Hercílio Luz. A assistência médica era proporcionada pelos Dr. Mathias Piechnik e o Dr. Miguel Bohomoletz. A mesma preocupação acontecia na cidade de Rio Negro que, na ocasião, contava com o trabalho médico do Dr. Eduardo Virmond de Lima. A atuação dos médicos se fazia nas duas cidades e em toda a região.

Em dezembro de 1917 chega a Rio Negro o Dr. Manoel Pereira da Cunha que viria a se transformar também em um grande personagem da história da cidade. Formado em 1916 no Rio de Janeiro, havia sido nomeado médico e diretor do Núcleo Colonial Barão do Rio Branco, órgão do Ministério da Agricultura, localizado no município de Joinville em Santa Catarina, de onde se transferiu para Rio Negro.

NECESSIDADE DE CONSTRUIR UM HOSPITAL

Com o desenvolvimento e crescimento populacional da cidade e mesmo com um número um pouco maior de médicos, tornou-se impossível dar uma assistência melhor ao doente da região. Precisavam urgentemente de um hospital.

Foi então que em 21 de abril de 1918, uma comissão cogitou a fundação de uma instituição para cuidar dos doentes da região. A comissão foi composta pelos seguintes senhores: Joaquim Ferreira do Amaral, Felippe Kirchner, José Bley, Dr. Manoel Pereira da Cunha e Nicolau Bley Neto, que reuniram-se no edifício da Câmara Municipal, onde encontravam-se presentes muitos  populares.

A comissão comunicou a ideia de fundação de um hospital a qual foi unanimemente aprovada. Nomeou-se uma Diretoria para tratar da construção do futuro hospital composta dos senhores Dr. Manoel Pereira da Cunha, Presidente; Nicolau Bley Netto, Secretário; Cel. Leopoldo Xavier de Almeida, Tesoureiro.

Juntamente a esta Diretoria, foi nomeada uma comissão de contas composta dos senhores Victorino de Souza Bacellar e Domingos Novaes Junior. Também nessa mesma reunião foram oferecidos os primeiros donativos a útil e filantrópica iniciativa.

APOIOS

A Senhora Elvira dos Santos Amaral, Presidente da Cruz Vermelha, comunicou a transferência da importância de três contos de réis daquela sociedade para a construção do hospital. O Senhor Ignácio José Corrêa que naquela reunião representava a Sociedade Beneficente dos Operários declarou que a mesma contribuiria com a importância de trinta mil réis mensais não só para a construção como também para a manutenção do mesmo estabelecimento.

Com o apoio popular e dos poucos empresários de Rio Negro e de Mafra, a comissão organizadora lançou-se a causa da construção. A Loja Maçônica “Trabalho e Fé” deu uma inestimável colaboração especialmente pelo trabalho administrativo de seus membros na diretoria como a do Dr. Manoel, na direção clínica.

Demonstrando um grande dinamismo, o grupo obteve boa contribuição, que para a região era bastante representativa, uma região de economia pobre, cuja produção maior dos municípios era a madeira, cereais, erva-mate e suínos.

E assim, com a vontade firme de seus idealizadores e com generoso consentimento do povo rionegrense a iniciativa de fundação do hospital marchou incansável.

Mafra com seus problemas e dificuldades de cidade recém-criada e ainda em organização político-administrativa, entendeu provavelmente, haver maior facilidade no empreendimento para Rio Negro, e assim desprendidamente deu todo seu apoio à iniciativa.

Em 18 de agosto do mesmo ano, isto é de 1918, realizou-se na Câmara Municipal uma sessão da comissão encarregada da construção do hospital, sendo então nomeada outra comissão, para organizar os estatutos que deveriam reger aquela sociedade.

Nessa mesma reunião foi dado o nome de “Bom Jesus” ao futuro hospital por proposta do Senhor Presidente da Comissão construtora, o Dr. Manoel Pereira da Cunha.

A Câmara Municipal de Rio Negro por solicitação do Presidente da Comissão de construção, na data de 31 de janeiro de 1919 doou gentilmente quatro lotes para a construção.

Em novembro de 1919 já se encontravam elaborados os estatutos do Hospital Bom Jesus, tendo sido submetidos à discussão no dia 07 desse mês em sessão realizada na Câmara Municipal, sendo então aprovados.

LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL

Os preparativos para a construção do Hospital Bom Jesus ia se tornando dia a dia realidade, até que no dia 02 de maio de 1920 foi lançada a pedra fundamental do futuro hospital, no lugar denominado na época de “Alto da Glória”, onde encontravam-se presentes a Comissão, Diretor da Construção, autoridades de Rio Negro e Mafra e grande  número de pessoas.

Com muito trabalho, muito empenho, entusiasmo, doações, contribuições, grandes problemas ultrapassados, a construção avança, levantam-se as paredes, a cumeeira e, com grande alegria, completou-se o edifício após 4 anos de muita esperança e árduo trabalho.

Construção do Hospital Bom Jesus

DIA DA INAUGURAÇÃO

Era 6 de agosto de 1924, um bonito  e significativo dia, quando com certeza a saúde na região teria outro direcionamento e outra qualidade. A solenidade estava repleta de autoridades e grande número de cidadãos riomafrenses. Cidadãos esses que a partir daquela importante data poderiam dispor de novos recursos.

Os filhos nasceriam no hospital sob adequados cuidados, cirurgias poderiam ser realizadas. Os casos clínicos teriam um local e condições de receberem um atendimento compatível com suas necessidades. Muitos sofrimentos seriam evitados ou amenizados, muitas vidas seriam salvas. Os recursos terapêuticos, cirúrgicos e, principalmente medicamentosos eram ainda bastante precários, mas um novo e grande passo havia sido dado.

Inauguração do Hospital Bom Jesus, 6 de agosto de 1924

ESTRUTURA INICIAL

Hoje, é difícil imaginar como era a vida cotidiana na cidade: com pouca luz, sem água potável, sem esgoto, sem telefone, um transporte precário, estradas de barro, região de poucos recursos, e sem hospital. Eram grandes os problemas. A vida era realmente difícil.

O Hospital não era grande, mas, suficiente para as duas cidades, pois, dispunha de locais para internação de pacientes adultos, crianças e parturientes. Possuía quartos e enfermaria e a enfermagem era administrada por Irmãs da Divina Providência.

Como toda obra recém-terminada, era preciso uma entidade sustentadora e para isto foi fundada no mesmo dia da inauguração a “Associação de Caridade”.

A luta pela melhoria da qualidade da assistência pela instituição até hoje continua cada vez maior.

Membros da diretoria e funcionários do Hospital Bom Jesus

O esforço de muitos leigos deve ser destacado, assim como, do trabalho médico, que contou sempre com uma exemplar qualidade profissional como foram os trabalhos do Dr. Manoel Pereira da Cunha, seu primeiro médico e diretor clínico e que exerceu suas atividades até 1932, quando transferiu-se para Curitiba. Além do Dr. Manoel a cidade desfrutou do trabalho de ilustres profissionais da medicina que exerceram sua atividade no Hospital Bom Jesus com zelo, dedicação, pioneirismo.

Homens como o Dr. Lysandro Santos Lima que atuou como médico e diretor clínico de 1930 a 1949, Dr. Ovande do Amaral de 1923 a 1949, Dr. Mathias Piechnik Filho 1931-1934, Dr.José Almeida Correa, 1932 – 1970, Dr. Edgar Bley de 1937 – 1950, Dr. Ivan Sabóia 1942 – 1968, além dos Dr. Manoel Xavier, 1926 a 1950, Dr. João Alfredo Silva 1931-1960, Dr. Henrique Stencel de 1935 – 1961, e muitos outros posteriormente que foram irradiadores de conhecimento, criaram discípulos e foram exemplos, exerceram a medicina na sua plenitude, cumprindo verdadeiramente o juramento de Hipócrates.

E assim, em tempos difíceis, de poucos recursos materiais e intelectuais concretizou-se em Rio Negro uma de suas mais magnânimas e nobres iniciativas, graças à abnegação de médicos, empresários locais, membros da maçonaria e do povo das duas cidades. Todos imbuídos de espírito solidário e coração generoso, não esqueceram o bem estar alheio e com muita coragem, determinação, dedicação, trabalho e luta construíram o nosso Hospital Bom Jesus.

PRIMEIRA DIRETORIA

Várias diretorias já passaram pela administração do hospital, sempre composta por pessoas de diferentes segmentos da sociedade. A primeira Diretoria eleita e empossada em 03 de julho de 1928 foi composta pelos senhores:

  • Provedor: Lisandro Cordeiro
  • Mordomo: Argemiro de Almeida
  • Tesoureiro: Jorge Zabatke
  • Secretário: José Wolff
  • Mesários:
  • Emílio Metzger
  • Protegenes Vieira
  • Aristides Becker
  • Ignacio José Correa
  • Oscar Bley
  • Mario Saboia
  • Julio Casten
  • José Baduy
  • Orontes Maia
  • Eugenio La Maison
  • Hugo Neumann
  • Emílio Evers
  • Comissão Fiscal:
  • Frederico Zornig
  • João Tesserolli Junior
  • José Procopiak

CRÉDITOS:

Pesquisa realizada por: Cínthia Maria Cordeiro e Juliana Wilczek de Oliveira
Fotos: acervo particular de Maria da Glória Foohs

ATUALIDADE

Foto: Divulgação/rede social

A Sociedade Hospital Bom Jesus é uma entidade filantrópica sem fins lucrativos, onde sua principal atividade é a prestação de assistência médico-hospitalar no atendimento à saúde, buscando atender com eficiência e qualidade seus usuários. Conta hoje com um quadro de aproximadamente 80 funcionários, além de voluntários e sócios que juntos trabalham para levar atendimento humanizado e de qualidade a todos.

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