O desejo pela democracia moderna (representativa e indireta = poder no domínio da maior parte representada) não é diferente do desejo pela democracia antiga (direta = distribuição do poder entre todos os cidadãos livres), pois esse é o desejo pela liberdade e autonomia na cidade enquanto deixamos de ser massa informe e sem opinião.
Nos dias de hoje a atividade política apresenta-se despolitizada e transformada em prática de mercado. Essa é uma verdade por tanto se falar em marketing político. Essa atividade limitou-se a uma prática de barganha de grupos junto às massas na competição pelos postos de governo. Neste mercado político é oferecida a solução de problemas sociais e econômicos que as massas teoricamente apresentam. Neste caso não há exclusivamente cidadãos ativos, mas sim, uma massa passiva de demandas.
Inexiste uma verdadeira opinião pública, o que temos é a aparente opinião pública fabricada nos meios de comunicação sob os imperativos da comunicação de massa. A opinião pública passou a se identificar com os resultados da “sondagem de opinião”. Podemos pensar essa sondagem acerca da condição do desabafo dos sem-poder captado pelo mercado político e convertido em demanda social a ser trabalhada pelos partidos e posteriormente ser oferecida aos cidadãos.
Os meios de comunicação são uma garantia de liberdade de expressão, de informar-se e informar, mas também são meios de poder, e podem criar técnicas sutis de manipulação. Nos dias de hoje o esvaziamento da reflexão é a pior ferramenta de manipulação, em termos técnicos, vivemos a sensação de que tudo é opinável e devemos considerar a opinião de todos, principalmente a de nossos ícones que ocupam o cenário político.
A atividade política gerencia uma demanda de sentimentos, de emoções revestidas de um mínimo de reflexão para ofertar uma “dominação carismática”, assim intitulava Max Weber. Tal realidade cria uma falsa ilusão de participação, o cidadão crê que a exposição de seus desejos e suas angústias os converte em sujeitos políticos ativos. Tomam o desabafo como atuação política, pois a condição de despolitização só se torna eficaz na presença desta ilusão democrática.
O máximo que nos resta é a escolha do que nos é ofertado. Não cabe a nós decidirmos o que queremos que nos seja ofertado. Ou seja, nosso espaço político hoje foi reduzido ao da heteronomia (escolha das propostas alheias) e não o da autonomia (capacidade de dar a si mesmo a escolha do próprio caminho) que funda o desejo de Democracia (Demos = povo; Kráthos = poder).
