Por Everton Renan Kociolek – Acadêmico de Ciências Sociais – UnC/Canoinhas.
O atual desejo por liberdade se reduz a uma simples liberdade individual, não estamos submetidos senão as leis: não sermos maltratados fisicamente e arbitrariamente, temos direito de expor nossas opiniões, escolher nossa profissão, ir e vir, reunir-se sem ser constrangido e daà por diante. O individualismo perpassa o atual pensamento sobre a democracia, compreendemos isso partir do momento que tomamos consciência de que nosso imaginário foi construÃdo pela promessa cultural de felicidade do “meu†e do “fazerâ€. Tudo se converteu em posse, principalmente as pessoas: “minha esposaâ€, “meu filhoâ€, “meu amigoâ€, “meu empregadoâ€, da ótica de uma prática fabril do fazer, “fazer amizadesâ€, “fazer amorâ€, “fazer filhosâ€.
Inexiste uma preocupação que afete nosso dia a dia acerca da liberdade polÃtica, pois não decidimos sobre as coisas públicas e o cidadão tão pouco opina sobre o destino das verbas públicas. Com relação ao voto, ainda tem que ser obrigatório e com relação ao dinheiro público nós só não admitimos passivamente, os desvios da corrupção, já quanto à ineficiência em suas aplicações só nós resta lamentar silenciosamente.
Perdemos a liberdade de participação e hoje “se esfuma a radicação ou a sensação de pertença emotiva-relacional-territorial, da vizinhança, as amizades, a terra natal, a cidadeâ€. Nossa existência individual não está mais embebida em uma consciência polÃtica, salvo nos brados e arremedos de algum tipo de solidariedade condicionada.
Delegamos a uns eleitos as preocupações que não queremos que ocupe nossos dias, o instituto da representação isenta-nos dessa responsabilidade. Só que acontece que nossa irresponsabilidade se transferiu para nossos representantes, pois quando eleitos desvinculam-se dos interesses que os elegeram. Nesse ponto podemos entender do por que a modernidade criou a democracia representativa, pois esta excluà o conteúdo social e está mais acostumada a hýbris, que significa excesso, desmedida, transgressão, impetuosidade, violência, orgulho, arrogância. No dicionário Liddell e Scott a primeira definição de hýbris é: “violência temerária que resulta do orgulho pela força ou pelo poder que se possuÃâ€.
Essa desvirtuada independência que hoje nos toma, nos cega de um elemento singelo: as decisões públicas afetam nossa vida individual mais do que esta afeta as decisões públicas ou o rumo que elas deveriam tomar. E os representantes do povo não deixam de nos alegrar pra continuarmos nessa inércia, que eles cuidarão de todos.
