Cerca de 70 agricultores participaram da manifestação. Foram utilizados pelo menos 12 tratores agrícolas, para obstruir a via e impedir o trânsito no local. O que mais revoltou a comunidade foi à atitude de líderes do governo em ameaçar enviar a polícia para rechaçar o protesto

A menos de um ano, de um grande protesto, que reuniu centenas de agricultores em frente ao prédio da Prefeitura de Itaiópolis, novamente a categoria teve que apelar para manifestação para ser ouvida pelo poder Executivo local. Naquela época, em maio de 2010, a agricultura gritava pela recuperação das estradas vicinais do município, para o escoamento da produção e a garantia do tráfego do transporte escolar pelo interior do município. Na última segunda-feira, 04 de abril, um grupo de agricultores que vivem na localidade de Linha Cerqueira bloqueou a estrada municipal. Cerca de 70 agricultores participaram da manifestação. Foram utilizados pelo menos 12 tratores agrícolas, para obstruir a via e impedir o trânsito no local. Funcionários do setor de obras da Prefeitura que estavam trabalhando na localidade e outros motoristas acabaram isolados na localidade. A manifestação iniciou na tarde de segunda e só terminou por volta das 17h 30, com ameaças, segundo os moradores, de que a Prefeitura enviaria forças militares para dissipar o protesto. Pressionados, os agricultores liberam o trânsito no local.
Revolta
Segundo um grupo de produtores rurais que representam o restante da categoria, o que mais revoltou a comunidade foi à atitude de líderes do governo em ameaçar enviar a polícia para rechaçar o protesto. Os agricultores afirmaram que não maltrataram as pessoas que estavam isoladas, do outro lado do bloqueio, e que a comunidade apenas exigia a presença do prefeito e também do presidente da Câmara de Vereadores. Outro ponto que desencadeou a revolta nos agricultores, foi à situação precária da estrada geral de Linha Cerqueira. A falta de cascalho sobre a estrada e também a falta de patrolamento e abertura de valas para drenar a água das chuvas são os principais problemas. A comunidade reclama de buracos, da formação de atoleiros, que impedem o trânsito do transporte escolar e colocam em risco a segurança dos alunos, pois há riscos de derrapagem dos veículos em pontos críticos da estrada. No entanto, o que mais indignou a comunidade da Linha Cerqueira foi a Secretaria de Obras iniciar a retirada de cascalho da pedreira da comunidade. A princípio, os agricultores acreditavam que o cascalho seria utilizado para revestir a estrada, mas acabou sendo transportado para outras localidades. Os agricultores não admitem o que a Prefeitura estava fazendo: explorando a cascalheira da Linha Cerqueira e consertando outros trechos de estradas, deixando a comunidade a mercê do abandono. Ainda, segundo uma mulher, a equipe de obras da Moema, vinculada a Prefeitura, iniciou a limpeza das frentes dos imóveis rurais. Mas, segundo ela, apenas algumas propriedades estão sendo alvo das roçadas, que extinguem plantações de eucalipto na faixa de domínio público, que compreende sete metros para cada lado da estrada, a partir do centro (miolo) da via. A mulher disse que parte do seu eucalipto que estava na faixa de domínio foi cortada pela Prefeitura, mas que existe outras propriedades com matagal na frente, e que o setor de obras nenhuma atitude tomou.
Negociações
Na manhã da última terça-feira, 05 de abril, os agricultores da Linha Cerqueira Romualdo Schostack, 47, Felício Glovacki, 55, Amadeu Smangozeski, 32, e Elice Schostack, 39, se reuniram no gabinete do prefeito Helio Wendt, para discutirem as medidas necessárias para resolver o problema da estrada municipal da comunidade. Participaram da mesa de negociações, além do prefeito, a vereadora Marlete Arbigaus (PP), o atual secretário de obras Claudinor Krajevski e o assessor jurídico da prefeitura. Os agricultores estavam muito revoltados e disseram ao prefeito que a estrada está abandonada e esquecida e também uma patrola foi para trabalhar na comunidade, mas acabou quebrando antes mesmo de realizar qualquer trabalho. Os agricultores informaram o prefeito que estão tendo problemas com o transporte escolar, que não circula devido aos atoleiros na estrada. O grupo também indagou o chefe do poder executivo do porque de ter solicitado que a polícia fosse resolver o problema na comunidade. O prefeito negou ter pedido para a polícia ir até a Linha Cerqueira. Wendt justificou afirmando que a Prefeitura vai recuperar a estrada da comunidade, mas que não a fez devido às chuvas que estão retardando as operações de recuperação das estradas da zona rural. Outro ponto suscitado pelos agricultores dentro do gabinete do prefeito diz respeito à atuação do encarregado de obras da Moema, Orlando Zwarzerski. Segundo o grupo, o encarregado agiu com desdém dos produtores da localidade. Os agricultores alegaram incompetência do encarregado e explicaram que ele tem desafiado a honra dos demais agricultores. Ainda, os moradores pediram para que a lei da limpeza das frentes dos imóveis rurais seja aplicada pela Prefeitura de forma igual para todos. Segundo a Prefeitura, são concessão pública sete metros para cada lado da estrada, contados a partir do meio da via. Nessa margem, a Prefeitura pode realizar a limpeza, sem precisar de autorização prévia do proprietário por se tratar de uma lei municipal.
O prefeito Helio Wendt explicou aos agricultores que a malha viária do município é muito extensa e que a Prefeitura tem se esforçado para atender todas as comunidades, mas lamentou as manifestações, por entender que gera negatividade para o município. O prefeito garantiu aos agricultores que a estrada da Linha Cerqueira vai ser recuperada e que o britador da Prefeitura não vai ser retirado da comunidade antes dos consertos serem concluídos. Ainda na última terça-feira, o secretário de obras Claudinor Krajevski seguiu para a localidade da Cerqueira, para em companhia de um agricultor mapear os três pontos mais críticos para dar inicio as obras de recuperação. A administração municipal explicou que são mais de 2,5 mil quilômetros de estradas municipais em Itaiópolis e que a Prefeitura paga diariamente quatro mil quilômetros de transporte escolar. Quanto à intervenção da polícia no protesto, a administração disse que foi informada que se tratava de um seqüestro, fato negado pelo grupo de agricultores. Segundo Krajevski, secretário de obras há pelo menos 70 cargas de pedra para serem britadas em Linha Cerqueira. Foi acordado entre a Prefeitura e os agricultores que as obras na estrada de Linha Cerqueira devem iniciar logo após o término dos trabalhos na estrada do Rio da Areia. Os agricultores reclamaram ao prefeito que o encarregado da Moema está beneficiando com empedramento determinados trechos a troco de votos da população. O secretário de obras assumiu compromisso com a comunidade e disse que a meta da Secretaria é justamente atender as estradas por onde circula os ônibus do transporte escolar. A vereadora Marlete Arbigaus disse aos agricultores que vai fiscalizar e acompanhar o trabalho da Secretaria de Obras na recuperação da estrada de Linha Cerqueira. Essa situação era de conhecimento da Prefeitura. “Fiz solicitação de empedramento na comunidade, visitei os moradores e sinto que isso é uma falta de consideração e respeito da administração com os agricultores. São os colonos que contribuem com os cofres públicos e hoje estão sendo considerados pelo Executivo como marginais e bandidos. As atitudes da prefeitura para reprimir o protesto dos agricultores na Linha Cerqueira é inconcebível, não tem explicação”, finalizou a vereadora Marlete Arbigaus.
