Municípios do Planalto Norte debatem produção com preservação ambiental

Com a perspectiva de que é possível produzir riqueza e preservar o ambiente, garantindo, assim, sustentabilidade às atividades rurais, agricultores do Planalto Norte de Santa Catarina têm-se reunido com especialistas e autoridades, em busca de soluções comuns. Integrados pelo programa Amigos da Mata Nativa, desenvolvido pela Souza Cruz nos três estados do Sul do Brasil, os produtores já realizaram debates em Canoinhas, Boa Vista do Toldo, Itaiópolis e Mafra. Major Vieira, nesta quarta-feira (22/6), completará o roteiro de seminários.
Destinados aos agricultores do Sistema Integrado de Produção, que a Companhia desenvolve há quase um século, os encontros mobilizam prefeitos, vereadores, secretários municipais, dirigentes de organismos estaduais da Agricultura e do Meio Ambiente e da Souza Cruz, contando, ainda, com a participação da organização não governamental Sociedade de Pesquisa da Vida Selvagem (SPVS). “Produzir preservando a biodiversidade é um ato de responsabilidade social das empresas e das pessoas, para com o presente e o futuro”, disse em Itaiópolis a Gerente Territorial da Souza Cruz, Daniela Marques. “Temos que nos dedicar ao negócio, sim, mas levando em conta sua continuidade. Não podemos ser imediatistas”.
Produção
De acordo com o que disseram em Itaiópolis Mauro Kazmierczak, presidente Sindicato dos Produtores Rurais, e Alcir Veiga, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, uma preocupação recorrente apresentada pelos agricultores é com a orientação. “Nossa disposição é a mesma de todos os que estão aqui: produzir, dar conforto e vida digna para nossas famílias, sem prejudicar o ambiente”, afirmou o primeiro. “Às vezes, as autoridades estão mais preocupadas em punir”, completou o segundo, lembrando que ninguém pode estar mais interessado na manutenção da viabilidade da propriedade rural do que as pessoas que vivem dela.
Assim como os dois líderes sindicais de Itaiópolis, seus colegas de Canoinhas, Edenilson Werka, do Sindicato dos Produtores Rurais e Edemar Gonçalves Padilha, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, também enfatizaram o caráter esclarecedor de eventos como os do programa Amigo da Mata Nativa, reclamando da linha punitiva às vezes adotada como única solução pelas entidades governamentais. Ambos pediram esclarecimentos sobre a legislação, que atualmente passa por transformações e ressaltaram a importância de ser mantida a capacidade de produção das propriedades como forma de manter a população no campo, declarando-se, igualmente, alinhados com a ideia do respeito à natureza.
Legislação
Presente ao seminário de Itaiópolis, o gerente regional da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma), Edi Ostrovsky, buscou tranquilizar os agricultores: “O progresso tem que existir, sim, mas vamos investir no progresso sustentável”. Explicou que preservar, hoje, a capacidade de produção das propriedades significa garantir sustentabilidade aos filhos e netos dos seus atuais donos. Em Canoinhas, o também coordenador regional Ivo Donlinski disse que a Fundação está permanentemente à disposição, tanto dos produtores quanto das empresas que adquirem sua produção, no objetivo comum pela sustentabilidade econômica e social.
O capitão Fábio Henrique Machado, da Polícia Militar Ambiental de Santa Catarina, que participou de toda a série de seminários no Planalto Norte, disse em Itaiópolis que encontros como esses são oportunos para “quebrar paredes” que não devem existir entre a PMA e os produtores. “Queremos orientá-los, assim como a população e inclusive as crianças, de que podemos utilizar os recursos ambientais, mas devemos deixar uma poupança pra nós mesmos e para as gerações futuras”. O militar esclareceu sobre a aplicação da lei e do licenciamento ambientais, áreas de preservação permanente, reserva legal e autuações. “Todos temos direito ao meio ambiente em sua integridade e o dever de preservá-lo”, observou, reconhecendo a importância da cultura do tabaco para a economia catarinense.
Preservação
A representante da SPVS, Marília Borgo, que igualmente esteve em toda a série de seminários nos municípios do Planalto Norte, enfatizou o que chamou de “ponto crítico” na produção, atualmente: a utilização de lenha nativa para as estufas de secagem de tabaco. Reiterando o que havia sido exposto pela própria Souza Cruz nos encontros, ela disse que é preciso substituir esse recurso por outros, renováveis, como lenha de eucalipto. A Companhia e a ONG mantêm parceria desde 2006, destinada a levar aos produtores integrados as ideias da preservação e da sustentabilidade.
“Trabalhamos em projetos de educação ambiental, com formas de orientação para que os agricultores compreendam que a biodiversidade também faz parte do negócio”, esclareceu ela, ressaltando o objetivo de conciliar produção com respeito à natureza. “Tudo o que temos na propriedade (como a água e o solo) continuará disponível se soubermos usá-los corretamente”. Marília Borgo informou que alguns países já pagam aos produtores que preservam – caso da Costa Rica – e que a possibilidade está em estudo no Brasil. Disse também em Minas Gerais há situações em que os agricultores mantêm a floresta e fornecem água limpa para as áreas urbanas.
Respaldo político
Reconhecendo a expressão econômica e social da cultura do tabaco para Santa Catarina, o Sul do Brasil e o próprio país, lideranças municipais participaram dos seminários. Em Canoinhas, o prefeito Leoberto Weinhert, o secretário da Agricultura, Vanderlei Dombroski e o presidente da Câmara, vereador Gilberto Passos, foram unânimes na pregação da unidade entre produtores, empresas e autoridades, a partir da visão de que é possível produzir e preservar e, assim, gerar desenvolvimento econômico e social.
Plano de ações
Para a gerente territorial da Souza Cruz, Daniela Marques, é responsabilidade de todos corrigir eventuais problemas da atualidade e antecipar-se a problemas futuros: “Devemos preparar a situação para nossos filhos, netos e bisnetos. Nossa preocupação não deve haver com as leis e as punições, e sim pelos nossos próprios recursos”.
Ela anunciou a orientação da Companhia de desenvolver um plano de ações que inclui a divulgação deorientações para conhecimento de todos os interessados, inclusive na forma dos seminários do programa Amigos da Mata Nativa; reuniões com produtores integrados para informar sobre a legislação ambiental visando à sustentabilidade; o desenvolvimento de uma rede de fornecedores de lenha em todas as regiões; a busca por novas tecnologias auxiliares à produção, como estufas com energia solar; a identificação de produtores com sobra de eucalipto para fornecimento aos demais na comunidade; o fornecimento de mudas de eucalipto aos produtores que possam reflorestar dentro de um planejamento; a orientação ao produtor para a melhoria das fornalhas e consequente diminuição do consumo de energia; a busca por novas alternativas de material energético, como pínus, uva do Japão e maravalha; programas de formação educacional de preservação ambiental para as crianças e jovens rurais, a exemplo do Clube da Árvore; a aproximação da Polícia Militar Ambiental com os produtores rurais visando à educação ambiental.
