A tradição de festejar e comemorar o dia de São Pedro e São Paulo na localidade de Rio Vermelho é mantido pelas famÃlias Veiga e Kuss há um século

Conhecida popularmente como a festa da “Cuca Grátis†aconteceu na quarta, 29 de junho na localidade de Rio Vermelho, municÃpio de Itaiópolis, mais um encontro de fé e religiosidade em comemoração ao dia de São Pedro e São Paulo. A comunidade interiorana, localizada a cerca de seis quilômetros do centro urbano de Itaiópolis parou, para celebrar a data religiosa. O evento é semelhante ao realizado na localidade de Poço Claro, em louvor a São Sebastião, que ocorre no dia 20 de janeiro de cada ano. No entanto, a comunidade de Rio Vermelho, especialmente as famÃlias Veiga e Kuss festejam há um século o dia de São Pedro e Paulo. Comparado por Jesus Cristo a uma rocha, o apóstolo Pedro edificou a Igreja Católica, Apostólica Romana. Braço direito de Jesus, o apóstolo Pedro empunha “As chaves do Céuâ€. O dia 29 de junho marca as comemorações ao dia do patriarca Paulo, considerado o maior missionário e evangelizador da palavra de Jesus Cristo no mundo. São Paulo é autor da frase: “ai de mim se eu não evangelizarâ€. O missionário Paulo percorreu boa parte do Oriente Médio pregando e catequizando as pessoas. E o dia desses dois Santos sublimes dos católicos não passou em branco em Itaiópolis. Na quarta, 29, apesar do tempo chuvoso, aconteceu o evento em louvor a Pedro e Paulo, na capela de Rio Vermelho, que leva o nome das santidades. A Gazeta de Itaiópolis prestigiou as comemorações. A tradição e devoção a São Pedro e São Paulo provêm das famÃlias Veiga e Kuss, que vieram do municÃpio de Santa Rosa no Rio Grande do Sul por volta de 1900, se instalando em Rio da Várzea, municÃpio da Lapa, estado do Paraná. Por volta de 1912, Eduardo Miguel Veiga, Angela Kuss, Pedro e Rita Kuss emigraram do interior do Paraná e se instalaram na comunidade de Rio Vermelho. A viagem que trouxe as famÃlias do Paraná para Itaiópolis foi feita de carroça e carretão, tracionados por cavalos e mulas até a antiga Colônia Lucena. O percurso da Colônia Lucena até a localidade de Rio Vermelho foi feito em lombos de animais denominados cargueiros. Até mesmo as carroças tiveram de ser desmontadas e transportadas no dorso dos animais. Tudo isso foi preciso, devido à inospitalidade das terras, cerrada pela mata nativa. O transporte das pessoas e dos objetos foi facilitado pela experiência de Eduardo Miguel Veiga, que na época era tropeiro contando com uma das maiores tropas da região, formada por 60 mulas cargueiras. A imagem de São Pedro sempre acompanhou as famÃlias. Do Rio da Várzea para Itaiópolis, a imagem do santo acompanhou a comitiva das famÃlias Veiga e Kuss. A rota principal realizada pelo tropeiro era levar erva-mate para Joinville, subindo de Joinville a Curitiba levando querosene, pregos, sal, açúcar amarelo, e outras especiarias. De Curitiba para Itaiópolis o tropeiro trazia telhas de barro, para cobertura de casas. A Gazeta de Itaiópolis entrevistou Ervino Veiga, 66 anos, filho de João Miguel Veiga e Madalena Kuss. O aposentado é devoto de São Pedro e São Paulo e é um dos organizadores da festa no Rio Vermelho. Segundo Ervino, já se passaram 100 anos do falecimento de seus avôs. A festa, segundo o aposentado, é uma tradição das famÃlias Veiga e Kuss, que passa de geração em geração. Durante o evento, as pessoas são agraciadas com cuca caseira e café, que é servido gratuitamente durante todo o dia. São realizados leilões e rifas de animais e objetos, mas, no entanto, o evento não visa lucro e o dinheiro arrecadado é para a manutenção da tradição. Segundo Ervino, pela manhã aconteceu na capela reza e procissão com a imagem de São Pedro e Paulo. Devotos dos municÃpios de Canoinhas, Mafra, Rio Negrinho e interiores de Itaiópolis participaram da festa. Dona Lurdes Fuerst, 59 anos, de Canoinhas, trouxe a neta Kaelen Dransfeld, de cinco anos. “Faz três anos que freqüento a festa de São Pedro e Paulo aqui no Rio Vermelho. Gostei muito por ser uma festa antiga; enquanto Deus permitir vou participarâ€, disse a mulher.
Osvaldir Bueno, 58 anos, participa da festa em Rio Vermelho, em louvor a São Pedro e Paulo desde criança. “Já faz dez anos que animamos o culto. Sou o gaiteiro e Eloir Schmokel é o vocalista. Usamos músicas sertanejas, mas transformamos em canções religiosasâ€, disse Bueno.

A festa em Rio Vermelho cresce a cada ano. Acontece em pleno dia de semana e todas as pessoas da comunidade respeitam. “Nessa festa não tem rico e nem pobre, todo mundo é igualâ€, completou Bueno. As próprias famÃlias da comunidade doam as prendas, que são leiloadas para custear a festa. A tarde, num galpão de chão batido coberto de Eternit, acontece à tarde de amizade e os leilões. A festa é muito animada e divertida. É exemplo de fé, de respeito e perpetuação da cultura popular.
