O poder da palavra- leia e pense no poder que vocĂŞ tem

Publicado por Mirian Salete Garcia - 11/12/2012 - 17h57

“Faça uso de meu poder. Ele Ă© imenso! É um dos maiores poderes que o ser humano possui.”

Era um dia de inverno rigoroso. Sentada confortavelmente no meu sofá, estava aquecida; por construções humanas – agasalhos -, mas tambĂ©m pela oferta da natureza – o fogo -, na lareira. No coração, a vontade urgente de encontrar uma forma de mudança: dos homens, do mundo… O inconformismo, entretanto, nĂŁo encontrava instrumentos. Sempre ouvi falar que cada um pode fazer sua parte, dar um passo, encontrar adeptos, quem sabe, ou nĂŁo, mas que a tentativa nos dá a certeza de nĂŁo termos cruzado os braços de maneira passiva. Percebia-me impotente, porĂ©m. Como fazer?

Bateram Ă  porta. Fui atender de boa vontade, já que o frio da estação, guarida nĂŁo faz no meu coração. NĂŁo me pareceu estranha a visitante, tampouco, a reconheci completamente. Apenas a sensação de que já havĂ­amos cruzado nossos caminhos. Ela apenas sorriu e, novamente, certa familiaridade se fez sentir em mim. Perguntei seu nome e em que podia ajudá-la; disse que gostaria de entrar, se nĂŁo estivesse incomodando, que gostaria de permanecer comigo no meu lugar aquecido – por pouco tempo, garantiu-me.

Entrou. Sentou-se ao meu lado e perguntou o que estava me angustiando. Estranho… Estranha presença que responder nĂŁo fazia, mas de questionar nĂŁo fugia, deixando-me desconcertada e, ao mesmo tempo, sem que conseguisse articular dentro de mim o porquĂŞ, me fascinava. Respondi-lhe com sinceridade sobre meu desejo e minha limitação. Acenou com a cabeça; gesto de entendimento e ao mesmo tempo de concordância. EntĂŁo me surpreendeu!

_Posso ajudá-la – disse-me sem hesitação –. Já ajudei inúmeras pessoas em tal empreendimento.

A surpresa cedeu lugar Ă  curiosidade diante daquela voz tĂŁo firme, paradoxalmente conhecida e desconhecida.

_Quem Ă© vocĂŞ? Como pode ajudar-me?

_Eu sou arcaica – há, inclusive, metáforas que afirmam que agi para construir tudo o que existe -; sou moderna, entretanto; sou criadora, mas, peço cuidado, pois tambĂ©m sou destruidora. Necessário se faz conhecer-me, ponderar o que coloco, conviver comigo antes de acreditar que meu poder vai estar posto a serviço do bem. Perceba: Posso ser maldita ou bendita. Tenha isso sempre em mente. Já incitei guerras… Já promovi a paz. Sou por vezes, ambĂ­gua, redundante, sou doce, mas posso me tornar amarga junto a quem assim se sentir. Ofereço beleza, mas, infelizmente, sou colocada na feiura de intenções enganosas. Sou constituĂ­da de opostos, como tudo o mais; como a luz e o dia, o frio e o calor… Relaciono-me com minhas irmĂŁs, que sĂŁo incontáveis, de forma harmĂ´nica ou desarmĂ´nica, dependendo de quem rege os instrumentos da “sinfonia” que me compõe. NĂŁo posso ser solitária o tempo todo! Sou, enfim, contraditĂłria naqueles em que existe tal atributo e, como todo ser humano o tem, Ă© uma de minhas maiores caracterĂ­sticas.

VocĂŞ me disse seu objetivo: mudança na razĂŁo e sentimentos dos homens, para um fim maior. VocĂŞ os quer melhores do que estĂŁo. Pois bem! Faça uso de meu poder. Ele Ă© imenso! É um dos maiores poderes que o ser humano possui. Coloque-me em contato com animais e verás que eles nĂŁo me entendem. Existo porque fui criada pelos humanos, por eles fui organizada, ganhei significações importantĂ­ssimas, tornei-me denotativa e conotativa; fico a vontade em metáforas, analogias, sou o berço da poesia, onde repouso mais bela do que em qualquer outro lugar. Beleza a parte, digo o que tem que ser dito de forma referencial; os jornalistas convivem comigo o tempo todo. Tenho tanto a ensinar; a literatura Ă© a razĂŁo maior de meu nascimento. Convivo bem com a coloquialidade, tanto quanto com a rigidez da fala normatizada da gramática. Vez em quando, poderá me encontrar entre as duas, confortável e entendĂ­vel, principalmente em discursos pĂşblicos, palestras, seminários… Sou idiossincrática; sei que vocĂŞ gosta de mim do seu jeito. Gosto de seu jeito de me deixar fazer parte de sua vida. Pense em mim. E, sĂł para deixar claro, nĂŁo cheguei sem convite. VocĂŞ estava, sem saber, gritando por mim. Eu ouvi e vim.

_Eu a conheço! Por isso sentia certa intimidade… Eu a tenho dentro de mim, embora, nem sempre, consiga articulá-la de maneira correta, eficaz. VocĂŞ Ă© a PALAVRA.

_Sou. Eu sou o instrumento que você procura para as mudanças que deseja – e acrescentou com uma simplicidade desconcertante – Não me use com arrogância, peço-lhe. Reflita sobre mim. Coloque-me a serviço do bem com humildade. Eu prefiro ser sugestiva a ser impositiva. Obrigada por me acolher no seu lugar e me ouvir sem interrupções.

Dei-lhe um abraço apertado, mas nada cheguei a sentir, pois acordei. Havia sonhado! Mas foi tĂŁo real o sonho… Vi-me sĂł. NĂŁo! NĂŁo estava mais sĂł, nĂŁo me sentia mais impotente e sem recursos para o que planejava. Estava rica de possibilidades, mas, como usar as palavras? Na forma oral? Escrita? Como fazer? Ela, a palavra, que em sua singularidade foi se organizando em frases como antes, foi quem me respondeu baixinho:

“_AlguĂ©m vai ter que acreditar em vocĂŞ. AlguĂ©m vai ter que te ouvir, alguĂ©m vai ter que te dar espaço. Escreva, nĂŁo desista…”.

Não desisto, espero. A “minha” palavra um dia terá poder. Até lá, vou escrevendo e convivendo com minhas escritas, numa solidão acompanhada pela esperança.

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2 comentários publicados
  1. mario

    Napoleão Bonapart e Hutler foram dois grandes sábios no uso da palavra, eram persuasivos e convenciam multidões que se aliavam a eles e iam à guerra convencidos que a causa era justa para ambos doutores no uso da palavra e consequentemente para todos.

    Portanto antes de fazermos uso da palavra Ă© preciso avaliar e conhecer o bem ou o mal que poderemos causar.

  2. mario

    Se a humanidade fizesse corretamente o uso da palavra, o mundo sĂł teria paz e diriam nĂŁo a violĂŞncia e a guerra.

    A palavra tem esse poder, quanto mais usá-la para o bem. melhor será a convivência entre as pessoas.

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