Esse artigo relata parte dos dados obtidos numa pesquisa realizada no ano de 2010, através de uma entrevista semi-estruturada, que teve como sujeitos 10 ex-residentes da Associação Terapêutica Novo Amanhecer – ATENA, que permaneceram no mínimo seis meses de programa terapêutico, e que estavam em abstinência do uso de substâncias psicoativas desde o encerramento do programa terapêutico, até o momento da entrevista.
Após a análise da fala dos entrevistados pôde-se perceber que a espiritualidade é um agente modificador na vida das pessoas que passaram por um tratamento para dependência química. Esta pesquisa mostrou que ela influencia de forma positiva e também negativa durante o tratamento e pós-tratamento. No entanto, o que se observou foi à predominância da influência positiva sobre a negativa. Percebeu-se ainda, que a espiritualidade, juntamente com outros aprendizados obtidos no tratamento, proporciona ao usuário novas formas de enfrentar e viver a vida.
Há elementos da espiritualidade que compõem um quadro de possibilidades diferenciadas e importantes no tratamento dos sujeitos em questão, que auxiliam no período do tratamento e na busca da recuperação. Através da utilização da espiritualidade no tratamento percebeu-se que a mesma promove mudanças no dependente químico, como o auto-perdão, sentimento de alívio, cuidados corporais, proporciona insight, melhora nos relacionamentos, momentos para poder falar dos problemas, autocontrole e limites, com isso a pessoa consegue adequar seus sentimentos de responsabilidade sobre suas atitudes e consequentemente consegue-se ter uma mudança na forma de se ver e perceber a si próprio e o mundo a sua volta. Todos os elementos também favorecem na manutenção do tratamento, auxiliando na prevenção à recaída e mantendo a abstinência, podendo assim, conservar o novo estilo de vida aprendido durante o período de residência na ATENA.
No entanto, percebeu-se também influências negativas frente à espiritualidade, como o olhar religioso trazendo vergonha de lembrar-se do passado e o sentimento de culpa. Além disso, as manifestações de afeto e necessidade de confiar em outros usuários eram incômodos no momento da espiritualidade proporcionado durante o internamento. Alguns chegaram a verbalizar a perda da naturalidade com tais práticas, pois há preocupação em não errar, pressão em ter que ajudar os outros e ainda há aqueles que acreditam na existência de um Deus punitivo, que os castiga por suas falhas.
Através desta pesquisa ainda se pôde notar que a maioria dos dependentes químicos não tinham momentos de espiritualidade antes do tratamento, mas com a participação no tratamento, onde a espiritualidade era utilizada como instrumento terapêutico, todos desenvolveram momentos de espiritualidade, agregando-os à seu novo estilo de vida e auxiliando-os no retorno ao cotidiano.
Assim, a espiritualidade se mostrou um instrumento relevante no tratamento dos dependentes químicos, mostrando a importância de ser usada e podendo ser utilizada nos tratamentos e no desenvolvimento pessoal de cada usuário, independente de crenças ou religião específicas.
Giselle Caroline Fuchs
Psicóloga
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