
Enquanto imprensa temos uma tarefa árdua em retratar e noticiar uma catástrofe como a que assolou Riomafra recentemente. Andando pelos bairros e vilas dos dois municípios, conversando com moradores que se encontram desabrigados, é possível sentir e ver a tristeza e angústia nos olhares de cada pessoa, que junta o resto de forças que ainda tem, para tentar reconstruir ou amenizar o estrago causado pela enchente.
(Fotos: Maria Christina Oliveira / Jornal Gazeta de Riomafra)
O cenário onde a cor marrom de lodo predomina, mostra lares destruídos, móveis e utensílios na calçada, à espera do caminhão de lixo, pois tudo o que se tinha dentro de casa, foi transformado em lixo, e já não se pode mais ser aproveitado.
Enquanto imprensa, não gostaríamos de mostrar a tragédia vivida por nossos conterrâneos, mas temos sim que sermos porta-voz de um povo sofrido, trabalhador e principalmente solidário, que a cada catástrofe como esta, consegue dar a volta por cima e reconstruir, reviver.
Diante deste cenário triste encontramos alguns personagens, pessoas que tiveram suas vidas devastadas, e encontram na imprensa, uma forma de pedir socorro e apelar pela atenção do poder público, representantes do povo e governantes do Estado e municípios.
Um destes personagens, é a Dona Márcia Regina Fernandes Dias, uma profissional liberal, proprietária de um salão de beleza, que ao olhar para sua sala, nada de beleza vê, mas mesmo assim, une forças para ajudar o próximo e reivindicar seus direitos.
Nossa reportagem conversou com Dona Márcia que tinha o que desabafar, reclamar com razão e também agradecer alguns “anjos” que passaram por seu bairro, a Vila Argentina em Mafra. Agradeceu e falou com carinho de alguns bombeiros que ajudaram a tirar móveis e pertences com água quase no pescoço, em contrapartida reclamou de policiais que em meio ao caos, multavam carros que no desespero tentavam passar em áreas isoladas.
O discurso foi unânime em todos os locais em que passamos, “onde está o prefeito, que na época de campanha, vinha de casa em casa, batia nas nossas costas e nos chamava de amigo? Queremos que ele venha aqui pessoalmente para nos ouvir e não ir na rádio e dizer que está tudo sob controle, só se for na casa dele, por que na nossa não está. Ele que venha aqui, nem que seja de cavalo”, desabafou Dona Márcia Regina.
Moradores da Vila Argentina prometeram fazer um protesto para chamar atenção das autoridades, caso não tomem alguma providência definitiva. As famílias dali não têm como voltar para suas casas, pois perderam tudo o que tinham. Dona Márcia conta que sua vizinha, a Suzana, só consegue chorar diante da sua casa destruída. Nas fotos é possível ver todos os móveis de Suzana destruídos, livros de seus filhos, roupas, brinquedos, louças, geladeira e fogão, nada restou e tudo virou lixo.
Outra moradora da Vila Argentina, a Gisleine também desabafou sobre o descaso, segundo ela, por parte do poder público em geral, e da mesma forma relatou que em época de campanha, todos apareceram ali, visitavam cada casa, e hoje ninguém aparece para ajudar.
Nossa reportagem também esteve na Vila Solidariedade em Mafra, e o que se pôde ver naquele local, foram os vestígios da destruição causada pela força das águas. Quase nada ficou no lugar, as famílias dali também perderam tudo o que tinham.
Conversamos com a Edinalva casada com Beto, outra protagonista desta triste história marcada pela tragédia da enchente. Com apenas 23 anos, rosto de menina, é mãe de dois filhos, o Nickolas com três anos e o Matheus, bebê de colo, que hoje mora no Caic junto com sua família.
Acompanhamos Edinalva até o local onde morava, era a primeira vez que voltava ao local depois que o rio baixou. Era possível ver a tristeza e o desespero na sua expressão, ao olhar para o que restou de sua casa, apenas o banheiro, que era feito de tijolos ficou de pé. O restante da sua casa de madeira, foi levado pela correnteza, e ela nos mostrou onde foi parar, metros acima do local original.
Edinalva, natural de Florianópolis, terra natal que deixou há três anos quando decidiu vir morar em Mafra, disse já estar cansada de tantas promessas de políticos. Contou a reportagem da Gazeta que foi a terceira enchente que seu marido passou, e anos atrás, ela e todos os seus vizinhos, moradores da Vila Solidariedade, ouviram a promessa de que morariam em um dos apartamentos do Condomínio Andaluzia, construído pela Prefeitura de Mafra, com recursos do Governo Federal. Mas isso não aconteceu!
Segundo Edinalva, outras famílias com condições financeiras melhores do que a dela, passaram na frente, e eles mais uma vez ficaram apenas na vontade de mudar de vida e sair daquele local de risco, onde hoje nem podem mais voltar.
A família de Edinalva tinha acabado de ganhar móveis novos, e arrumado tudo dentro de casa, e agora, mais uma vez terão de recomeçar do zero, mas ainda nem sabem onde vão morar.
“O prefeito nem apareceu por aqui, manda dizer que estão resolvendo nosso problema, que vão nos ajudar com o pagamento de aluguel, mas temos medo de que mais uma vez fiquemos só ouvindo promessas”, desabafou Edinalva.
Rio Negro também tem histórias tristes
A Gazeta também esteve na Vila Paraíso, Vila Militar e na Vila Paraná, e em todos estes lugares a desolação retrata a vida das inúmeras famílias.
Na Vila Paraná encontramos Seu João Costa, que nos guiou por todas as ruas e nos mostrou todas as casas atingidas pela cheia, e o que restou das casas que a correnteza levou.
Seu João disse que já passou por outras enchentes, já que mora na rua que fica à beira do rio, mas em nenhuma delas viu tanta destruição como esta de 2014. “A água subiu rápido demais, quando fomos dormir, depois de levar nossos pertences para um lugar mais alto, na manhã seguinte a água já tinha chegado até lá e molhado nossos móveis, perdemos tudo mais uma vez”, disse João.
Personagem da tragédia, João ainda traz um pouco de alegria na sua fala, e conta de sua pequena metalúrgica, de onde tirava seu sustento e que agora está tomada de lama e cheia de destroços.
João narrou a história de seus vizinhos e falou de peculiaridades como a de Seu Jorge, que já passou por 34 cheias, e hoje tem apenas o telhado da casa de fora. Mostrou as várias casas e também amontoados de madeira e tijolos, que foi tudo o que restou de algumas residências que ali se encontravam.
“Político aqui não apareceu nenhum, nem pra ajudar. Prefeito e vereadores nem se deram o trabalho de vir aqui”, disse Seu João, morador de Rio Negro há décadas.
Na Vila Paraíso vários comércios foram atingidos, e por onde andávamos o cheiro de lodo e a lama impregnavam as ruas. O dia era de limpeza, contabilizar os prejuízos, tirar os lixos, salvar o pouco que restou de mercadorias.
Diferente do que pudemos ver em Mafra, em Rio Negro a Sanepar fazia a limpeza das ruas, e com isso trazia um pouco de esperança às famílias marcadas por mais aquela grande enchente.

Mafrense, ja ouviu falar em oportunidade? Poisé agora vejamos emprego nós também temos, salario não é os 2 mil que a caixa pede pra poder financiar um imovel de 100 mil, mas é o que nos mantem durante um mes todo, ou como costumamos dizer acaba o dinheiro mas não acaba o mes, então tendo em vista essa nossa dificuldade de poder financiar uma residencia em uma area que não é de risco e que convenhamos não custa menos de 80 mil, nós não vemos uma oportunidade para largar mão das mesmas, é vila, é area de risco, é abandonado, mas é nosso, comprado ou locado ou bancado como vc prefere se vangloriar com o nosso emprego, nos façam propostas que não sejam ir morar la na Cidade de Deus, que podemos enfim entrar num acordo, não queremos nada de graça, podemos pagar por isso, só queremos que a prefeitura facilite as coisas, pra que pagar 450,00 500,00 num aluguel quando se pode pagar um financiamento? Reveja as coisas antes de escrever aqui, e não esqueça que tem muita gente trabalhadora nesses locais, pagamos nossas contas todas em dia,o que nos falta é oportunidade!
Ah então vc é super trabalhador e todas as outras pessoas atingidas pela enchente são vagabundos e preguiçosos e por isso não querem sair de onde estão ?
Concordo com o que dizem. As pessoas tem que ter noção que estão vivendo em área de risco e que mais cedo ou mais tarde terão serão atingidos. Não consigo ter pena de pessoas que investem e reformam estabelecimentos e casas morando muito próximas aos rios..
no alto da sua falta de pena criastian, consegue pensar que algumas famílias não tem a menor condição de sair das áreas de risco?
eu consigo ter pena de você por pensar assim
Infelizmente muitas destas mesmas pessoas já passaram por situações semelhantes, mas teimosamente voltam ao mesmo lugar. E a administração, junto com a secretaria de ação social e defesa civil apenas marcaram casa com números que deveriam ser retiradas do seu lugar e até agora nada fizeram.
E o mais impressionante no carnê de IPTU consta “área inundável”,.
Em resumo, o IPTU tem que ser pago. Quem é que vai ajudar esse povo?
Me comovo com estas histórias?? Sim e Não.
Sim, porque infelizmente não podemos controlar fenômenos naturais e nosso país, que tem dinheiro sobrando para estádios de futebol, ainda não tem condições de atender toda a demanda habitacional que existe. E Não porque, como citado na reportagem, Mafra teve projetos do Programa MCMV, porém muitas pessoas que hoje foram atingidas pela enchente não quiseram se inscrever porque ” o apto é muito pequeno, não fica no centro, tem que pagar uma parcela máxima de 80 reais, tem que juntar documentação para a Caixa”…e outras desculpas deste tipo. Ainda existem empreendimentos do MCMV em andamento, como o Residencial Ouro Verde ao lado do Andaluzia, então povo é questão de escolha, ou abre mão de algumas coisas agora ou todo ano vai ter que reconstruir porque perdeu na enchente.
fácil falar para os outros abrirem mão.. Queria ver você fazendo isso.
Já fiz, querido!! Por isso posso falar!!
dúvido muito!
e quem te bancou ?
Já ouviu falar em trabalho, emprego…pois é, eu trabalho e muito para me bancar!