A cultura ocidental muito deve à Grécia; e a agricultura, segundo a mitologia, também. Percebendo que os homens sofriam ao procurar alimentos – nômades e circulantes -, viviam da caça e da pesca, e guerreando entre si, a deusa Deméter (Ceres para os romanos) tomada de compaixão chama Triptólemo – corajoso jovem de Elêusis -, e pede que ensine os homens a plantar. Triptólemo não hesita, apanha um feixe de trigo e parte mundo afora. Por onde passa ensina os homens a preparar a terra, a semear e a cultivar os campos. Cessa a fome, o homem assenta raízes; já não é nômade, sedentário ergue nova civilização. O ato de cultivar, de domesticar animais, gradativamente, consolida-se. Isso há mais dez mil anos atrás, como verbera Raul Seixas.
Como recompensa, em face de exitosa missão, Triptólemo, passa a habitar o Olimpo e recebe de Core, filha de Deméter, uma coroa de ouro. Nasce a agricultura, e com a mesma novos tempos, e novas relações econômicas e sociais, típicas do sedentarismo.
Há quem diga que a extensão rural surgiu no Egito, às margens do rio Nilo. Aos férteis sedimentos depositados pelas cheias, alia-se o homem, e sua sabedoria: conhecimentos transmitindo-se de geração em geração – cabendo aos mais experientes disseminá-los.
A extensão rural é um pouco disso: Agrônomos, e profissionais de áreas afins, dedicando-se à educação informal de jovens e adultos, valendo-se de metodologia específica.
A extensão rural exige dedicação, conhecimento e, sobretudo, respeito aos agricultores e a natureza. “Ajudar os agricultores a ajudarem a si próprios”, segundo Knapp – pai da extensão rural na América do Norte. Com sabedoria destacava: “Um homem pode duvidar do que ouve; pode também duvidar do que ele vê; só não pode, porém, duvidar do que ele faz”.
Os Estados Unidos, desde a colonização, priorizam a fundação de escolas agrícolas de nível médio; vindo em seguida os centros universitários. Ensino, pesquisa e extensão, eis o tripé que até hoje norteia os ideais das universidades.
Quanto à Santa Catarina, ainda na década de 1956, percebendo os gestores públicos que as políticas públicas tradicionais, voltadas ao fomento, não logravam êxito, criam a Acaresc – Associação de Crédito e Extensão Rural de Santa Catarina (atual Epagri). Em pouco mais de cinco décadas muda o cenário agropecuário catarinense. Com apenas 1,13% do território nacional, torna-se o sexto produtor nacional de alimentos. Alicerçados na agricultura familiar, somos referência no país e no mundo. Numa época que se fala em fome, falta de alimentos e escassez de recursos naturais, almejamos um novo patamar: o desenvolvimento sustentável. Homem e natureza, aliados, propõem-se a uma nova conquista: crescimento econômico com respeito à natureza. Os catarinenses mais uma vez dão sobejo exemplo de competência. Nunca é demais rememorarmos Glauco Olinger e as equipes de extensionistas que, de forma pioneira e ousada, há mais meio século percorrem terras catarinenses. Eis que, enfim, o país reconhece a importância da extensão rural aprovando lei específica – lei de Ater. A saga de Triptólemo prossegue; os deuses do Olimpo agradecem.
Onévio Antonio Zabot
Engenheiro Agrônomo
