Duas mulheres já em trabalho de parto, procuraram atendimento urgente na Maternidade do Hospital Bom Jesus, não foram atendidas por falta de médico e somente depois foram comunicadas que os serviços da mesma não seriam mais prestados. Familiares de uma das parturientes, que se encontrava dentro de uma ambulância do SAMU, indignados chegaram a procurar pelo prefeito e alguns vereadores, sendo que o chefe do executivo e um vereador conseguiram uma vaga para a mesma dar a luz, no Hospital de Campo Largo, distante de Rio Negro.

A outra paciente conseguiu uma vaga na Maternidade Dona Catarina Kuss, em Mafra, mas informações extraoficiais dão conta de que a mesma teve que pagar como paciente particular.

Uma outra paciente, que passou mal em casa, se dirigiu até a Unidade Ambulatorial de Emergência de Rio Negro (PA), chegando inclusive a acompanhar a situação das duas gestantes. Após ambas serem transportadas para Campo Largo e Mafra, a paciente pensou que seria atendida na UAE, mas a porta simplesmente foi fechada, sem que nenhuma satisfação ou explicação lhe fosse dada. “…Eu, ainda mal, fui ao PA de Mafra, onde a atendente com muita má vontade, depois de alguns bons minutos, perguntou grosseiramente o que eu queria. Falei que obviamente precisava de atendimento e ela com mais grosseria ainda me pediu a carteirinha do SUS, a qual não tenho. Então me pediu a carteira de identidade com comprovante de residência, quando falei ‘minha senhora, como que alguém que está passando mal, vai lembrar de pegar o comprovante de residência’? Ela quase gritando, mandou eu ler o que tinha no vidro, que dizia sobre a documentação necessária e eu, já irritada falei que isso era um descaso com a população e muito indignada sai do PA. Tenho dó de quem só tem esse recurso para a saúde…”!

A moradora, de Rio Negro, indaga quando Mafra e Rio Negro vão ter o mínimo de atendimento necessário. “Cobrar impostos eles sabem muito bem, portanto senhores responsáveis por tudo isso, tirem a mão do bolso e coloquem na consciência”, finalizou.

Esses e outros casos já foram parar nas redes sociais e a indignação do povo se demonstra muito grande.

O que diz o Hospital e Maternidade

Marlon Witt, administrador do Hospital e Maternidade Bom Jesus, atendeu nossa reportagem via telefone e confirmou o encerramento “temporário” dos atendimentos da Maternidade, por falta de médicos. Em sua justificativa, Witt disse que os médicos de sobreaviso solicitaram aumento em seus vencimentos, lembrando que a instituição não tem condições financeiras para tal, o que levou os profissionais a se negarem prestar atendimento junto à maternidade.

Ele disse que os serviços da Maternidade foram interrompidos às 18h de segunda-feira e que comunicou, via e-mail, as Secretarias Municipal e Estadual de Saúde, solicitando inclusive apoio para o reencaminhamento de gestantes que necessitarem de atendimento.

Com relação ao PA, diz que houve falta de médicos, por isso o mesmo não vem funcionando normalmente. Indagado sobre as portas estarem fechadas, acabou por dizer que realmente não há médicos e que “não se acha esses profissionais em qualquer esquina”.

Witt disse que enquanto a situação da falta de médicos não se resolve, está contando com a colaboração do PA de Mafra, que vem atendendo os casos de emergência de Rio Negro. Porém os pacientes rionegrenses dizem que há grandes dificuldades em  atendidos no PA de Mafra.

Prefeito diz que médicos não receberam salários

O prefeito de Rio Negro, Milton Paizani também ouvido via telefone pela GAZETA, afirmou que ficou sabendo na segunda-feira sobre o fechamento da Maternidade e de igual forma, da Unidade Ambulatorial de Emergência (PA).

Paizani lembrou que além de o executivo vir pagando regiamente os valores contratados para que o Hospital mantenha o Pronto Atendimento. “São mais de R$ 160 mil por mês e já adiantamos mais de R$ 130 mil para que pudessem pagar os salários atrasados”, destacou.

O prefeito contrariou o afirmado pelo administrador do Hospital e Maternidade, afirmando que os médicos não estão mais trabalhando pelo simples fato de não haver recebido seus salários desde janeiro. “…A nossa parte estamos fazendo, pagamos para que o Hospital preste bons serviços e vamos exigir isso”, diz Milton Paizani, ao afirmar que medidas diferentes deverão ser tomadas por sua administração. “Esse é o modelo da gestão antiga ainda, mas em pouco tempo vamos fazer funcionar o nosso modelo”.

Com relação aos serviços da Maternidade, o chefe do executivo Rionegrense disse que pretende fazer um convênio com a Maternidade de Mafra e para isso já está tentando contato inclusive com o secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, Wellington Bielecki, para que este venha a ajudar na concretização deste convênio. “A média de nascimentos em Rio Negro é de 18 a 20 por mês e cremos que aquela Maternidade tem condições de nos prestar serviços”, diz. Caso Mafra não aceite prestar os serviços, Paizani vai procurar um acordo com a Maternidade da Lapa.

O prefeito ainda falou que o governo do estado está disposto a auxiliar o Hospital e Maternidade Bom Jesus. Segundo ele, uma nova máquina já está prometida para o nosocômio. “As coisas ainda vão ficar bem”, salientou.

Com relação ao PA, disse que o hospital tem que resolver, porque está sendo pago para isso. Conta o prefeito, que a administração daquela unidade se comprometeu a trazer médicos de Curitiba, para que o PA volte a funcionar 24h por dia.

Com relação a Mafra estar atendendo os casos de emergência de Rio Negro, Paizani disse que é uma política da boa vizinhança. “Eles não são obrigados a atender nossos pacientes, acredito que nenhum caso de emergência deixará  de ser atendido no Pronto Atendimento de Mafra”, finalizou.

Secretário de Mafra concorda com o atendimento emergencial

O chefe da pasta da Saúde em Mafra, Tadeu David Geronasso, ouvido por nossa reportagem, disse que não há um acordo formal e que os rionegrenses estão procurando por atendimento no Pronto Socorro de Mafra. Destacou que somente no final de semana, com evento de motociclismo em Rio Negro, muitos casos de acidentes foram atendidos pelo Pronto Atendimento Edmond Saliba, em Mafra. “Nós optamos por atender as emergências de Rio Negro e quem chegar nessas condições, certamente será recebido”.

Indagado por nossa reportagem sobre o SUS ser Nacional, por isto não pode se negar a atender pacientes rionegrenses, Geronasso disse que o SUS repassa o valor de atendimento dos cidadãos do município e não de outros. Estamos gastando os recursos que recebemos para atender os rionegrenses e não podemos pedir que nos repassem este valor”.

Também perguntamos sobre como é detectado se o caso é de urgência ou não. O secretário relatou que qualquer paciente chega ao balcão onde é preenchida uma ficha. Depois é chamado no setor de triagem, onde uma enfermeira habilitada e devidamente capacitada checa os dados vitais e outros e, no caso de dúvida, aciona imediatamente um dos médicos plantonistas. Só que vários pacientes que não querem ser identificados nos relataram que isto não acontece na prática, mesmo porque enfermeira não é qualificada para diagnosticar casos assim.