Muitos duvidaram, outros não acreditavam que aconteceria, mas na manhã da sexta-feira (5), às 10h, aconteceu o tão alardeado “tratoraço”, protesto dos agricultores de Mafra que não aguentam mais esperar por obras de infraestrutura nas estradas do interior para poderem escoar a safra e transitarem por suas localidades.

O movimento começou cedo em frente ao E.E.B. Gustavo Friederich, no bairro Restinga, aos poucos os agricultores e moradores do interior do município foram chegando e posicionando seus tratores e caminhões para seguirem com o protesto até a Prefeitura Municipal. Cerca de 150 tratores acompanhados de vários caminhões e vans desfilaram pelas principais ruas de Mafra com faixas pedindo maior atenção para as localidades do interior.

Após passarem pela rua Tenente Ary Rauen, pela avenida Marechal Floriano Peixoto e pela praça Hercílio Luz, os produtores rurais chegaram em frente ao Paço Municipal colocando tratores e caminhões nas ruas que circundam a Prefeitura, dando um abraço simbólico no prédio.

Segundo um dos coordenadores do evento, Marcos Ecker, a manifestação aconteceu devido à má administração e o descaso da atual administração municipal com a população do interior. “Nós não temos mais direito de ir e vir por falta de manutenção nas nossas estradas”, disse o agricultor que destacou que tem produtor passando por dentro de rio para poder escoar sua safra, principalmente a de fumo que começou a pouco tempo, e que quando chove não tem como sair de casa. “Quando chove ficamos presos em nossas comunidades”, falou.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Camilo Delis Machado, comentou que a mobilização aconteceu devido à falta de infraestrutura, da falta de manutenção das estradas, pelas pontes que estão em má conservação, pelo término de construção de escolas e postos de saúde.

Conversa com o prefeito

Uma comissão formada pelos líderes do movimento, que tinham em mãos uma carta com reivindicações, foram até o gabinete do prefeito municipal, Roberto Agenor Scholze (PT). Durante a reunião os produtores rurais expuseram ao prefeito municipal a pauta de reivindicações da população do interior:

– Empedramento, patrolamento e manutenção permanente realizada por zeladores devidamente contratados pela Prefeitura;

– Continuidade e conclusão das pontes das localidades de Ribeirãozinho, São Lourenço, Rio Branco II, Saltinho do Canivete, Campo Novo (Barracas), Vila Ruthes, e a revitalização da ponte que dá acesso ao campo de futebol da comunidade do Butiá dos Taborda.

– Que o transporte escolar utilizado pelos alunos da escola São Lourenço e que atualmente funciona nas dependências da UnC, não ocorra a parada para a troca de ônibus, pois as crianças ficam um período considerável ao relento sujeitas as intempéries do tempo;

– Que seja fornecido uniforme escolar aos alunos para não haver constrangimento entre eles devido as diferenças sociais;

– Reconstrução da Escola de São Lourenço, que o novo local seja centralizado na comunidade encurtando as distâncias para os alunos que vem do Brito, Cailé, Irara, Butiá dos Tarboda, Ribeirãozinho, Barracas, entre outras. Com prazos definidos para início e fim das obras.

– Que seja construída a primeira creche rural na comunidade do Butiá dos Taborda para atender as famílias da região, principalmente os produtores de tabaco;

– Cumprimento imediato das promessas de campanha eleitoral onde foi prometido ações de porteira adentro.

Na saúde os produtores pedem:

– O término das construções dos postos de saúde do Saltinho do Canivete e São Lourenço;

– Contratação de agente de saúde para Barracas;

– Reativação do Posto de Saúde de Avencal de Cima;

– Realização de exames sem ter que passar pela autorização de dois médicos;

– Contratação urgente de pediatras;

– Revisão do local de atendimento médico da população de Campo São Lourenço, redimensionando para outra Unidade de Saúde uma vez que não há linha de ônibus entre as comunidade.

O prefeito Roberto Agenor Scholze, que estava acompanhado de seus secretários municipais, expôs aos agricultores que entende e sabe de todas as necessidades da população do interior, mas devido a questões financeiras não pode realizar todas as ações que quer fazer, como o empedramento das estradas rurais.

Mostrou uma apresentação com gráficos comparativos com outras gestões para tentar mostrar a realidade financeira de Mafra. Informou a todos que diferente do que é falado o gasto de pessoal na sua maioria é com servidores efetivos e não com os contratados e comissionados.

Também mostrou um comparativo da arrecadação do IPTU que em 2012 foi de R$ 3,9 milhões, em 2013 R$ 4,3 milhões e agora em 2014 ficará próximo de R$ 2,1 milhões.

Disse colocando ainda responsabilidade pela falta de recursos até em cima dos vereadores que até a data de sexta-feira não tinham devolvido os valores economizados por eles à Prefeitura. “Pelo que escutei irão devolver o dinheiro só no último dia”, disse o prefeito justificando que o valor poderia ser usado em obras de infraestrutura.

Quando indagado sobre a relação do executivo com o legislativo, o prefeito foi enfático em dizer que ele busca o diálogo com a Câmara e que na verdade existe uma retaliação por parte dos vereadores. “Sou humilde o bastante para ligar e conversar com os vereadores”, falou, explicando que conversa com alguns vereadores e que após o diálogo eles o criticam na Câmara Municipal. E que o programa porteira adentro foi desvirtuado pelos vereadores. Diante disto os agricultores cogitaram em fazer uma manifestação semelhante, também na Câmara de Vereadores.

Durante a conversa com o prefeito o tesoureiro do Sindicato Rural de Mafra, Domingos César Herbest comentou que é lamentável para os agricultores a as condições que as estradas do interior se encontram hoje.

Domingos relatou que mora apenas 11 km da cidade, porém leva 2 horas para chegar a até o centro de tanto buraco que tem a estrada. “Isto é uma vergonha é um desrespeito com os agricultores”. Disse também que há falta de interesse e gestão administrativa nesta atual administração em relação à captação de recursos, não fazem projetos para receber subvenções estaduais e federais – “Se não tem dinheiro nos cofres Prefeitura, tem que ir atrás de recursos. Vocês são do mesmo partido do governo federal (PT) é só ter projetos e correr atrás, coloque o pessoal para trabalhar” – disse.

Também comparou Mafra ao município de Santa Terezinha que empedrou 18 km de estradas com pedra britada tipo 1 – “porque lá o prefeito vai atrás de recursos”.  disparou. Questionou: “quantas caçambas de pedra britada Mafra ganhou… nenhuma…”

Outro agricultor lamentou dizendo que “nesta administração não há interesse em melhorar”. Questionou a competência da equipe do prefeito, pedindo para colocar pessoas capacitadas nos respectivos cargos, prevalecendo sobre os interesses políticos.

Secretários foram questionados

Os secretários municipais de Saúde, Jaqueline Previatti Veiga e da Educação, Juliano Munhoz, foram questionados pelos agricultores. Jaqueline foi questionada quanto a localidade de Barracas que não possui agente comunitário de saúde (ACS). A secretária explicou que foi aberto processo seletivo, mas não houve inscrições da comunidade. “O governo federal exige que o agente comunitário resida na própria localidade. Não houve interesse, então, peço a vocês, representantes de Barracas, que quando houver processo seletivo para contratação, que peçam para os moradores para fazê-lo e assim, terão um ACS na localidade”, explicou. Moradores de São Lourenço questionaram sobre a construção de uma nova escola. “Fizemos duas reuniões com pais e apresentamos a proposta de uma unidade dentro da metodologia inovadora”, esclareceu Juliano.

Após a conversa com o prefeito Roberto os agricultores saíram do gabinete sem uma resposta imediata quando as reivindicações e foram de encontro com os demais produtores rurais que aguardavam em frente à Prefeitura, onde o coordenador do movimento, Marcos Ecker, subiu em cima de uma camionete e informou os demais sobre a reunião e desafiou o prefeito, “Se a Prefeitura está sem dinheiro, pois então ele [prefeito] que doe a metade do seu salário para as obras de empedramentos das estradas do interior”, disse ovacionado pelos agricultores presentes no ato, cobrando uma atitude imediata do prefeito Roberto quanto a manutenção das estradas do interior, quando outro agricultor retrucou dizendo “Se o prefeito fizer isso [doar a metade do seu salário], eu dou R$ 5 mil por mês para ajudar”, falou indignado com a situação das estradas do interior e temendo por não conseguir escoar sua safra. Também foi pedido que os secretários e vereadores doassem também metade dos seus salários para arrumar as estradas, já que a Prefeitura não tem e o prefeito não vai atrás de recursos.

Ficou definido que haverá uma reunião de trabalho no início de janeiro, dia 15, entre a comissão dos agricultores e a Prefeitura, onde o prefeito e seu secretariado responderão todas as dúvidas e questionamentos dos agricultores para que seja feito um plano de trabalho que atenda todas as comunidades, de acordo com as prioridades de cada uma.

Fotos

Fotos: Miguel Luiz/Gazeta de Riomafra