Bob Dylan sua história, e seu legado para a música e o Rock.

Publicado por Cris Fagundes - 03/08/2012 - 14h12

Boa tarde galera, seguindo nossos textos, falando sobre importantes e grandes nomes não só Rock and Roll, mas da história, sociedade como um todo, pedimos passagem hoje para falar de um tal de Bob Dylan (risos) e o seu legado e influências para os que viriam depois, sem mais delongas vamos aos trabalhos.

Nova Iorque, 1963, concentra em seu bairro boêmio, o Greenwich Village, uma fauna de pintores, músicos, vagabundos e um grupo underground (outro movimento que ganhava força), os Fugs, composto de sete músicos de folk rock e dirigido por Ed Sanders, um louco visionário, adepto do LSD e que compunha músicas onde misturava provocação e sexualidade.

Nesse mesmo Village, circula pelos coffee e pubs um rapaz de violão e gaita, cantando canções que falam de guerra, bombas, paz. Seu nome é Bob Zimmerman, filho de judeus, voz esganiçada e palavras cortantes. Ele já havia gravado um álbum em 62, onde adota o Bob Dylan que provoca controvérsias e alimenta a mídia. Nesse disco ainda grava remakes de contry blues e gospels. Seu nome ganha projeção em 62 com “Blowin’in the Wind” – que logo é gravada por inúmeros artistas e entra na parada das dez mais com Peter, Paul and Mary. Era a primeira vez que uma canção pacifista fazia sucesso. Isso leva os promotores do Festival folk de Newport a incluí-lo na programação, e Dylan surge para o mundo. Assume então a posição de “profeta da juventude” veiculada pela imprensa e grava seu disco mais politizado.

O panorama então poderia ser resumido dessa maneira: a Inglaterra começava a assimilar o rock visceral e enérgico dos Stones e Clapton (e, claro, a música dos Beatles). Os Estados Unidos — pode-se dizer inclusive que essa era a melhor forma de expressão para o que acontecia no país naquele momento — entram fundo no folk-rock, com Dylan e os grupos que passam a tocar suas músicas: The Band, Birds. Essas correntes iriam logo se auto-influenciar com a vinda dos Stones, Beatles e seus discos para os EUA e a chegada dos trabalhos de Dylan, Birds e The Band a Londres. O Led Zeppelin, apesar de toda energia de seu hard rock, tem um lado totalmente acústico e folk, aquilo que Page queria fazer quando ouviu o disco do The Band. Mas vamos agora a Dylan.

“How many times must the cannon balls fly
efore they’re forever banned”

Era assim que Dylan sentia aquele momento: ele captava toda a angústia da juventude americana e transformava aquilo em grandes poemas musicados. O nome das músicas do segundo disco (The Freewheelin’Bob Dylan) dá um panorama do que as letras dizem: “Masters of War”, “Blowin’in the Wind”, “Talking World War III Blues, “Oxford Town”. O sucesso cria a lenda: Bob teria “chupado” o sobrenome Dylan do poeta Dylan Thomas, outro pirado, que morreu em 1953, de “overdose” de uísque (l8 doses). Thomas era um santo para os beats, e quem de certa maneira provocou o renascimento da poesia nos Estados Unidos, estimulando os poetas beat a escreverem. A gaita e o violão seriam uma herança recebida de Woodie Guthrie, a quem visitou quando estava para morrer.

Guthrie era um folk singer famoso que corria o país cantando nos campos e bares e fugindo da polícia. Sua terra natal, Oklahoma, vivia hostilizada entre dois extremos: a seca e as tempestades. Woodie deixou cedo a família e com
o violão e a gaita foi o principal desmistificador da depressão, cantando nos pátios das fábricas, nos campos de algodão, chamando a atenção do povo para aquela situação. Existe inclusive um filme interessante sobre sua vida — “This Land is My Land” – com o kung-fu Karradine no papel principal.

Durante a década de 30, Guthrie percorreu os EUA de carona, se apresentou em circos, feiras, bares. Seus temas falavam da pobreza, da miséria, do abuso dos patrões. Dylan o conheceu pouco antes de morrer e o seu trabalho tem em Woodie o grande inspirador.

Assim como Woodie, Dylan deixa cedo a família. A lenda diz que fugiu de casa aos 10, 12, 13, 15, 17 e 18 anos. Não é possível saber a verdade, mas o certo é que naquele começo dos 60, com 20 anos (nasceu em Duluth, Minesota, a 21 de maio de 41), perambulava por Greenwich Village, com o violão e a gaita, tocando nos coffees do bairro. O primeiro disco sai por obra de John Hammond (que logo depois tocaria com Hendrix, ou seja, o mundo é pequeno), do qual já falamos. Segundo Roberto Muggiati (Rock, o Grito e o Mito), custou 403 dólares e foram prensadas 4.200 cópias. No seu primeiro concerto compareceram 53 pessoas.

A antena de Dylan, porém, estava sempre ligada. Ele tirava do noticiário dos jornais e da TV a matéria-prima para suas canções, falava a linguagem que a juventude em “guerra” nas universidades queria ouvir. Um crítico do New York Times aposta naquela “mistura de menino-de-coro e beatnick” e cria o rótulo “canção de protesto”, que passa a ser sinônimo do trabalho de Dylan. O estouro de “Blowin’in the Wind” consolida essa imagem.

O terceiro disco saiu em 64, e mantinha a linha política inclusive no nome: “The Times they are A’Changing”. Junto com Joan Baez (que infelizmente virou a Mercedes Sosa do rock), lidera o movimento de rebeldia. “Quantas vezes devem as balas do canhão explodir até que sejam banidas para sempre”: os versos de Blowin’in the Wind são cantados nas manifestações de todo país. Dylan é o porta voz da nova esquerda, brilha no Festival de Newport, aparece em um especial de TV e a imprensa do mundo inteiro fala no seu nome. Aí, parece, ele cansa.

No quarto disco, ele quebra com a imagem de garoto pré-fabricado e passa a fazer composições autobiográficas.
O público considera a virada em seu trabalho uma traição, suas letras não são mais compreendidas facilmente, ele exacerba o lado surrealista da poesia, faz longas digressõesfala da incompreensão dos homens pelo que fazem e ao se apresentar em l965 no mesmo festival de Newport é vaiado. Na verdade Dylan faz nova revolução musical, quando se apresenta acompanhado pelas guitarras elétricas do The Band: uma heresia para a folk music. A imprensa imediatamente cria um novo nome para aquele som: folk rock. Nasce logo em seguida a música que os Birds iriam consagrar como a primeira psicodelic song, “Mr. Tamborim Man”, o primeiro hit de uma longa lista de drug songs que aparecem depois.

O folk-rock estava definitivamente estabelecido.
Depois disso Dylan sai com uma série de trabalhos — “Subterranean Homesick Blues”, “Like a Rolling Stone”. No verão de 66 sofre um acidente de moto e fica fora de cena por alguns anos. Voltaria no início dos 70, mas aí sua música já não era a mesma coisa, Dylan se perde em procuras religiosas, volta ao judaísmo, converte-se novamente ao cristianismo mas sua música não reflete mais aquela energia do rapaz do Village. Por isso paramos com Dylan por aqui!

Legado.

Dylan se afasta mas deixa o seu nome e seu trabalho no cenário da música americana e do Rock and Roll para sempre. Suas canções continuam nas rádios, na boca dos estudantes, e nos discos de dois grupos que gravam suas canções e dominam até certo ponto o panorama do folk-rock: The Band e os Byrds. Mas alguma coisa começava a mudar. Os Stones já haviam passado sua avassaladora sonoridade pelos States (1964), os Beatles já haviam tocado antes pelo país. As duas correntes começavam a se misturar, o folk e o rock. A partir de meados da década surgem então os primeiros grupos voltados para um trabalho que poderíamos dizer “mais rock” e menos folk. Grupos como o Vanilla Fudge, o Iron Butterfly, o Steppenwolf, o Allman Brothers.

A disseminação do LSD, o começo do movimento híppie trazem para o palco os grupos “lisérgicos”, como o Gratefull Dead; a dissonância do Mothers of Invention, de Frank Zappa, a banda que faz a trilha sonora para os junkies e inconformados; a crônica ácida e lúcida dos poemas decadentes e brilhantes de Lou Reed, no Velvet Underground (que já falamos); a corrida paralela de Janis Joplin pelos caminhos do puro blues; o inconformismo da canadense Joni Mitchel, que emigra para os EUA com outro companheiro de terra natal famoso e como ela um cáustico crítico da situação americana, Neil Young. O Jefferson Airplane, de Grace Slick, é outra antena da época. São muitos grupos, com novas propostas.

A importância de Bob Dylan pode ser medida de muitas formas. Ele foi um dos personagens centrais na luta pelos direitos civis nos anos 60, ajudou o rock a entrar na maturidade e se tornar o principal gênero musical da segunda metade do século passado, misturou alta e baixa cultura em letras que citavam a Bíblia, Shakespeare e os beats, expandiu a duração da música pop, fez a country music sair da Disney particular em que estava se enfiando (Nashville) e reabilitou Johnny Cash, apresentou maconha aos Beatles, duvidou (várias vezes) da religião, da cultura de seu tempo e dos próprios fãs. Montado no cavalo da contradição, foi o último caubói do Velho Oeste chamado Estados Unidos – ironicamente um judeu de Minnesota que fez sucesso entre os intelectuais nova-iorquinos.

Negou o título de porta-voz de uma geração, foi elétrico quando ser elétrico era sinônimo de adolescência, se isolou no campo quando o movimento hippie veio bater à sua porta, não teve medo de expor seus sentimentos e ansiedades numa persona arredia, canta – até hoje – as mesmas músicas cada hora de um jeito diferente. Mas ainda são canções. Ainda seguem a tradição inventada no tempo em que o vinil era uma novidade tecnológica tão excitante quanto a música digital hoje em dia.

Bem por hoje é isso galera, me despeso com alguns vídeos do mestre Bob Dylan.

Bob Dylan – Hurricane.

http://www.youtube.com/watch?v=zXO-eiat3Dg

Bob Dylan – All Along the Watchtower.

Bob Dylan – Mr. Tamborine Man.

Bob Dylan –  Like a Rolling Stone.

http://www.youtube.com/watch?v=cLiLSRKms30

Bob Dylan – Blowin’ In The Wind.

http://www.youtube.com/watch?v=TOQ-5cps31I

Bob Dylan – Desolation Row.

http://www.youtube.com/watch?v=FHNaWlcrO3k

E assim terminamos nosso texto, um ótimo final de semana a todos, e até a próxima.

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