Após várias reportagens da Gazeta abordando o tema da dificuldade encontrada por pacientes de serem internados pelo Sistema Único de Saúde – SUS – no hospital de Mafra, o problema continua. De acordo com relatos e declaração a nossa reportagem e  na sessão de segunda-feira na Câmara de Vereadores de Mafra, os pacientes atendidos por médicos particulares continuam não podendo ser internados no Hospital São Vicente de Paulo pelo SUS, significando que terão que pagar todo o internamento.

A equipe de reportagem do jornal Gazeta de Riomafra recebeu uma denúncia que na última quinta-feira, 1º de agosto, um paciente de cadeira de rodas, Cleiton Greffin, com infecção grave na bexiga teve o seu internamento negado via SUS pelo hospital, pois teria consultado com um médico particular e o hospital entendeu que desta forma o mesmo já teria optado pelo atendimento particular. Porém, Cleiton não pagou sua consulta com médico André Cássias, pois é um acordo entre médico e paciente.

Segundo informações, por coincidência, dr. André tinha que resolver alguns problemas naquela instituição de saúde e encontrou seu paciente ainda na recepção do hospital tendo dificuldades em ser internado pelo SUS. Neste momento, o médico interviu para que o paciente fosse internado via Sistema Único de Saúde. Relata o médico que Dário neste momento sentiu-se de certa forma, acuado, talvez até pela presença dos familiares de Cleiton, funcionários e demais pessoas que ali se encontravam, mudando de ideia naquele momento, internando o paciente via SUS. André também relatou que já teve quatro ou cinco casos de pacientes que estavam sendo internados pelo particular.

Segundo carta redigida pelo paciente, “Meu médico interviu e exigiu meu internamento pelo SUS. Sempre sou atendido no hospital por ele e não pago consulta, ele nunca cobrou, mas funcionária e administrador do hospital insistiram no meu internamento particular. Novamente meu médico insistiu que fosse internado pelo SUS até porque não teria como pagar o internamento particular, só sei que me causaram o maior constrangimento em frente aos funcionários e minha esposa”, declarou Cleiton.

O médico também explicou a diferença do poder aquisitivo de um paciente que paga uma consulta e daquele que pode pagar todo um internamento. “O internamento particular chega a custar entre R$ 500, R$ 600 reais por dia, e uma consulta é R $200 em média de duas vezes ao ano. Não é o mesmo perfil de uma pessoa que tem R$ 20mil para pagar um internamento. E o particular limita o tratamento, pois custos de exames, como tomografia, sai caro e eu, como médico, preciso ter liberdade de fazer o que é necessário”, explicou.

Essas reclamações são unanimes dentro da classe médica do Hospital São Vicente de Paulo. O médico Alexandre Neumaan acredita que essa forma de definir o internamento é errada. “Todos nos achamos errado, pois se o médico se dispõe a tratar pelo SUS, ainda mais se tratando de uma instituição filantrópica, fica incongruente de exigir que seja internado no particular. As pessoas têm de escolher seu médico”, afirmou.

A situação de pacientes indeterminados é explicada pelo médico Alexandre, que diz que os mesmos ficam em estudo e a assistente social faz uma avaliação para ver se será via SUS ou particular. “Não tive problemas, mas acaba gerando constrangimento e ansiedade para pacientes e famílias. A maioria não tem condições financeiras, às vezes não estão conseguindo resolver o problema e preferem consultar com determinado médico e esse profissional se disponibiliza internar pelo SUS não tem porque o hospital impedir”.

Existem argumentos que pessoas com condições financeiras estariam roubando vagas de pessoas pelo SUS, porém segundo André a informação não procede. “Estamos pagando muito caro pela saúde e não estão roubando vagas, porque no hospital não está faltando leitos”.

Outro relato que ao entrarem para o corpo médico do hospital são informados pelo administrador, Dário, que 70% dos internamentos devem se feitos pelo SUS, assim tendo informações incoerentes em relação ao internamento.

Em reportagem veiculada no dia 19 de janeiro deste ano, Gazeta de Riomafra procurou se inteirar do caso, com profissionais na área do direito e da saúde, convergindo no sentido de que o hospital não pode agir desta forma, pois na hora do ato do internamento é o momento em que se deve fazer a opção pelo tratamento particular, convênio ou SUS. É um direito explicito de o paciente escolher, sendo que o hospital não pode interferir na sua opção, não está previsto em lei onde paciente atendido por médico particular não podem ser internado pelo SUS. Sendo que o acesso à saúde via Sistema Único da Saúde (SUS) é um direito constitucional, conforme garante a lei 8080 de 19/09/1990. A respectiva lei em seu capítulo II, artigo 7 , garante: “universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência”. Além do mais, não se pode comparar o valor de uma consulta particular, com o valor de um internamento, ou seja, não quer dizer que um paciente que possa pagar uma consulta particular, tenha condições também de arcar com internamento particular no hospital. Na época o administrador Dário contestou, afirmando que segue a lei federal, onde diz que se o paciente deu entrada pelo particular assim deve ser internado e vice-versa.

Na tarde da terça-feira, nossa equipe de reportagem entrou em contato com o administrador do hospital, Dário Staczuk, para ouvir sua versão sobre o caso do paciente Cleiton e as alegações dos médicos entrevistados nesta reportagem, porém o mesmo informou que estava em Brasília em um congresso, se dispondo a responder as perguntas na próxima sexta-feira, 9.